domingo, 5 de maio de 2024

Sonata n.º 7: A Cubana

(Castellano, English Versions, scroll down the page)


 


A Sonata Cubana, a de nº 7, de Leo Brouwer (1939-) recebeu uma estreia no modo virtual (4 de abril de 2024) pelo talentoso violonista brasileiro João Luiz, no canal de YouTube das cordas Augustine, que patrocinou o evento sob a anuência das Ediciones Espiral Eterna. A Augustine deixou evidente a honra que teve em apresentar o “Maestro Leo Brouwer, como lendário compositor, regente e violonista”. 

Print do vídeo
Canal de YouTube Augustine Strings 


Cada vez mais testemunhamos as características da produção brouweriana. À maneira dos grandes nomes, ouvimos Brouwer e retemos suas ideias artísticas, as que lhe são mais caras, e o fazemos com o privilégio de sermos seus contemporâneos. Quem conhece a fundo a obra de Brouwer sabe o quanto ele contribuiu para as artes nacionais de Cuba, sendo o Cinema (ICAIC) e a Nova Trova Cubana (GES) referências citadas em resenhas e trabalhos acadêmicos.

Para Brouwer, o diálogo com a ancestralidade, o universo popular cubano e a transversalidade dos sistemas (modal, tonal, atonal, pós-tonal…) são os elementos de uma amálgama que expõe a sua poética. Que honra que seja um músico como ele a dedicar boa parte de seu trabalho composicional ao violão, reiterando o uso de complexidade sonoro-musical e exigência técnica do instrumento. Além disso, Brouwer é um pensador, homem culto e de muita experiência profissional pelo mundo, que, aos 85 anos de idade, vem ampliando o repertório com obras interligadas a muitas expressões artísticas.

A Sonata n.º 7 nesse vídeo de estreia virtual possui três movimentos, cujos títulos evocam as intenções de diálogo com a cultura, ancestralidade e musicalidade cubanas:

I. Sonera meticulosa

II. Soledad del Cañaveral 

III. Carlos Embale sin ti...


De acordo com o que Brouwer afirma na descrição do vídeo, ele compôs os três movimentos da Sonata em março de 2021. Um pouco depois, João Luiz lhe pediu um quarto movimento. Nesse sentido, Brouwer retornou à obra para alargá-la pela inclusão de um meio musical cubano, o Changüí, finalizando-a em maio de 2022, como explica Brouwer: 

“João asked me to complete it with a fourth tempo (...) which I did following his request to recreate the Changüí. Therefore, this sonata includes popular Cuban genres such as Son, Changüí, Rumba and elements of the dance music of my country”.


Brouwer expressa “sua afeição especial” por João Luiz e a palavra que emprega – “conexão” – carrega o melhor sentido entre esses dois artistas de diferentes gerações unidos pela arte. E conexão também é o que vemos entre as sonatas de Brouwer, desde a primeira em 1990 [*], em cujas sonoridades contemporâneas ouvimos minimalismos com naturalidade de africanidades e cubanidades – um bom modo de iniciar essa escuta é retornar aos 20 Estudios Sencillos e ir além da técnica. Aliás, infinitas vezes Cuba foi apresentada por meio da música de Brouwer; no caso dos Estudios, foi um didatismo em dobro.

De volta aos três movimentos estreados da Sonata e os gêneros musicais mencionados pelo genial cubano:

I - Sonera meticulosa. É de caráter de dança ao som do "Son", um gênero musical popular cubano bastante difundido, que permeou a produção do poeta nacional Guillén e de compositores cubanos moderníssimos do porte de Caturla e Roldán, bem como o son que está revisitado em inúmeras obras de Brouwer. 
Nesse primeiro movimento, o violonista interage com dois tempos que se alternam: ora as próprias células melódico-rítmicas da clave (a rítmica) do son ora os fraseados de gesto virtuosístico, realizados a partir de escalas extremamente velozes, em ligados, cujas sonoridades são contrastantes ao ambiente tonal do son inicial.

II - Soledad del Cañaveral. Esse segundo movimento é de caráter cantabile contrastando com o anterior, e que habilmente dialoga com rítmicas do primeiro, tendo harpejos sincopados introduzindo uma melodia, cuja continuidade promove um diálogo a duas camadas. Difícil não se deixar levar pela paisagem sonora dos canaviais de então, berço de tantas vertentes, de guajiros e treseros, de trabalho e de baile também. 

III. Carlos Embale sin ti... . O músico citado no título foi uma estrela da música popular cubana, dono de uma voz especial para os chamamentos solista/coro, atuante no complexo musical da Rumba, da vertente de origem ancestral, polirrítmica, e longe da investida comercial da primeira metade do século XX. 
Aqui o caráter de dança retorna, frenético, bem mais allegro pelos seus meios rumberos que o ambiente sonero do primeiro movimento. Há por fim a citação de Estudo Simples n° 10 reiterando a rítmica densa da rumba e a conexão de Brouwer com os elementos afro-cubanos nessa série. 

O quarto movimento IV- Quasi Changüí não foi apresentado nesse vídeo de estreia, mas sabemos que João Luiz já o vem executando, tendo ficado a seguinte ordem: I. Sonera meticulosa; II.Carlos Embale sin ti… III. Soledad del Cañaveral e IV- Quasi Changüí .
O Changuí é outro meio musical cubano muito tradicional e temos exemplos dele nos Estudios Sencillos, em várias células de síncopas que atravessam de um compasso a outro. Os Estudos Simples de Brouwer são um bom fundamento para melhor localizar as células rítmicas dos gêneros musicais mencionados, e um grande número de suas obras alude a essas características. 

Performance de João Luiz – O violonista dedicatário, além da desenvoltura com que executa tecnicamente, demonstra os fraseados com muito afeto, interpretando, reconhecendo os signos musicais brouwerianos e cubanos; João Luiz entra e se desloca por entre as ideias musicais, ouve-se a paisagem e o estilo, tornando-se assim uma referência.
Um detalhe à parte é a posição de João Luiz, adotando nesse vídeo uma postura sem uso de apoios ao violão na perna esquerda, o que em nada o dificultou a fazer mudanças de timbres na mão direita e centralizar bem a esquerda para os saltos e traslados necessários – tudo com maestria.

[*] Sonata 1 (dedicada a J. Bream)
Sonata 2 del Caminante
Sonata 3 Decameron Negro Post-sonata-del-decameron-negro
Sonata 4 del Pensador
Sonata 5 Ars Combinatoria (comissionada Julian Bream Trust)
Sonata 6 De los enigmas/mistérios

Mais:

Sobre as células rítmicas da Clave e os gêneros musicais Son, Rumba, Changüí, veja-se: Helio Orovio – Diccionario de la Música Cubana - biográfico y técnico. Editorial Letras Cubanas, 1981.

Partituras de Leo Brouwer: Ediciones Espiral Eterna

 



Esta foi a última postagem desse Blog. 
Desejo que tenham gostado! Muito obrigada pela sua companhia nesses anos.
Despeço-me cordialmente. 
Teresinha Prada.



 

 

Versión en Castellano

(English Version, scroll down the page)

 

Sonata núm. 7: La Cubana

 

 

La Sonata Cubana, número 7, de Leo Brouwer (1939-) recibió un estreno virtual (4 de abril de 2024) de la mano del talentoso guitarrista brasileño João Luiz, en el canal de YouTube Augustine Strings, que patrocinó el evento con el consentimiento de Ediciones Espiral Eterna. Augustine Strings dejó claro el honor que tuvo al presentar al “Maestro Leo Brouwer, como un compositor, director y guitarrista legendario”.

 

Cada vez somos más testigos de las características de la producción brouweriana. Como desde los grandes nombres, escuchamos a Brouwer y retenemos sus ideas artísticas, las que más le son más queridas, y lo hacemos con el privilegio de ser sus contemporáneos. Quien conoce a fondo la obra de Brouwer sabe cuánto aportó a las artes nacionales cubanas, siendo el Cine (ICAIC) y la Nova Trova Cubana (GES) referentes citados en reseñas y trabajos académicos.

Para Brouwer, el diálogo con la ancestralidad, el universo popular cubano y la transversalidad de sistemas (modal, tonal, atonal, post-tonal...) son los elementos de una amalgama que expone su poética. Qué honor es que un músico como él dedique gran parte de su trabajo compositivo a la guitarra, reiterando el uso de la complejidad sonoro-musical y las exigencias técnicas del instrumento. Además, Brouwer es un pensador, un hombre culto y con mucha trayectoria profesional en todo el mundo, que a sus 85 años ha ido ampliando su repertorio con obras vinculadas a múltiples expresiones artísticas.

La Sonata No. 7 en este video de estreno virtual tiene tres movimientos, cuyos títulos evocan intenciones de diálogo con la cultura, ascendencia y musicalidad cubana:

 

I. Sonera meticulosa

II. Soledad del Cañaveral 

III. Carlos Embale sin ti...

 

Según afirma Brouwer en la descripción del vídeo, compuso los tres movimientos de la Sonata en marzo de 2021. Un poco más tarde, João Luiz le pidió un cuarto movimiento. En este sentido, Brouwer retomó la obra para ampliarla incluyendo un medio musical cubano, Changüí, finalizándola en mayo de 2022, según explica Brouwer:

 

João asked me to complete it with a fourth tempo (...) which I did following his request to recreate the Changüí. Therefore, this sonata includes popular Cuban genres such as Son, Changüí, Rumba and elements of the dance music of my country”.

 

Brouwer expresa “su especial cariño” por João Luiz y la palabra que utiliza – “conexión” – tiene el mejor significado entre estos dos artistas de diferentes generaciones unidos por el arte. Y conexión es también lo que vemos entre las sonatas de Brouwer, desde la primera en 1990 [*], en cuyos sonidos contemporáneos escuchamos, con naturalidad, a minimalismos con africanidades y cubanidades – una buena manera de comenzar esta escucha es regresar a los 20 Estudios Sencillos y seguir más allá de la técnica. De hecho, Cuba ha sido presentada en innumerables ocasiones a través de la música de Brouwer; en el caso de los Estudios se trató de un doble didactismo.

 

Volvamos a los tres movimientos estrenados de la Sonata y los géneros musicales mencionados por el genial cubano:

 

I- Sonera meticulosa. Tiene un carácter bailable al son del "Son", género musical popular cubano muy difundido, que impregnó la producción del poeta nacional Guillén y de compositores cubanos muy modernos como Caturla y Roldán, así como el son que es revisitado en innumerables obras de Brouwer.

En este primer movimiento, el guitarrista interactúa con dos tempos alternos: a veces las células melódico-rítmicas de la clave (la rítmica) del sonido, a veces los fraseos de gesto virtuoso, realizados utilizando escalas extremadamente rápidas, en ligados, cuyos sonidos contrastan al entorno tonal del sonido inicial.

 

II- Soledad del Cañaveral. Este segundo movimiento tiene un carácter cantabile, contrastando con el anterior, y dialoga hábilmente con los ritmos del primero, con arpegios sincopados introduciendo una melodía, cuya continuidad promueve un diálogo en dos capas. Es difícil no dejarse llevar por el paisaje sonoro de los cañaverales de aquella época, cuna de tantas vertientes, de guajiros y treseros, del trabajo y del baile también.

 

III. Carlos Embale sin ti... . El músico mencionado en el título fue una estrella de la música popular cubana, dueño de una voz especial para llamadas de solista/coro, activo en el complejo musical de la Rumba, de origen ancestral, polirrítmico, y alejado del embate comercial de la primera mitad del siglo XX.

Aquí regresa el carácter bailable, frenético, mucho más allegro por su medio rumbero que por la atmósfera sonera del primer movimiento. Finalmente, hay una cita de Estudios Simples nº 10, que reitera el denso ritmo de la rumba y la conexión de Brouwer con los elementos afrocubanos de esta serie.

 

El cuarto movimiento IV- Quasi Changüí no fue presentado en este video debut, pero sabemos que João Luiz ya lo viene interpretando, con el siguiente orden: I. Sonera minuciosa; II.Carlos Embale sin ti… III. Soledad del Cañaveral y IV-Cuasi Changüí.

Changüí es otro medio musical cubano muy tradicional y de ello tenemos ejemplos en Estudios Sencillos, en varias células de síncopa que cruzan de un compás a otro. Los Estudios Simples de Brouwer son una buena base para localizar mejor las células rítmicas de los géneros musicales antes mencionados, y un gran número de sus obras aluden a estas características.

 

 

Performance de João Luiz – El dedicado guitarrista, además de la soltura con la que interpreta técnicamente, demuestra su fraseo con gran afecto, interpretando y reconociendo signos musicales brouwerianos y cubanos; João Luiz entra y se mueve a través de las ideas musicales, se escucha el paisaje y el estilo, convirtiéndose así en una referencia.

Detalle aparte es la posición de João Luiz, adoptando en este vídeo una postura sin utilizar apoyo para la guitarra en su pierna izquierda, lo que de ninguna manera le dificultó realizar cambios tímbricos con la mano derecha y centrar bien la izquierda para saltos y transferencias necesarias – todo con maestría.

 

 

 

[*] Sonata 1 (dedicada a J. Bream)

Sonata 2 del Caminante

Sonata 3 Decameron Negro Post-sonata-del-decameron-negro

Sonata 4 del Pensador

Sonata 5 Ars Combinatoria (comissionada Julian Bream Trust)

Sonata 6 De los enigmas/mistérios

 

Más:

 

Sobre las células rítmicas de la Clave e os géneros musicales Son, Rumba, Changüí, veja-se: Helio Orovio – Diccionario de la Música Cubana - biográfico y técnico. Editorial Letras Cubanas, 1981.

 

Partituras de Leo Brouwer: Ediciones Espiral Eterna

 

Video de la estrena: https://youtu.be/Qq9JwGSa6l4?feature=shared

 

 



English Version

 

Sonata nº 7: The Cuban

 

The Cuban Sonata, number 7, by Leo Brouwer (1939-) received a virtual premiere (April 4, 2024) by the talented Brazilian guitarist João Luiz, on the Augustine Strings YouTube channel, which sponsored the event with the consent from Espiral Eterna Editions. Augustine Strings made clear the honor by introducing “Master Leo Brouwer, as a legendary composer, conductor and guitarist.”

 

We are increasingly witnessing the characteristics of Brouwerian output. As with the great names, we listen to Brouwer and retain his artistic ideas, those that are dearest to him, and we do so with the privilege of being his contemporaries. Whoever knows Brouwer's work in depth knows how much he contributed to the Cuban national arts, with Cinema (ICAIC) and Nova Trova Cubana (GES) being references cited in reviews and academic works.

For Brouwer, the dialogue with ancestry, the Cuban popular universe, and the transversality of systems (modal, tonal, atonal, post-tonal...) are the elements of an amalgam that exposes his poetics. What an honor it is that a musician like him dedicates a large part of his compositional work to the guitar, reiterating the use of the sonorous-musical complexity and the technical demands of the instrument. Furthermore, Brouwer is a thinker, a cultured man with a long professional career around the world, who at 85 years old has been expanding the repertoire with works linked to multiple artistic expressions.

Sonata No. 7 in this virtual premiere video has three movements, whose titles evoke intentions of dialogue with Cuban culture, ancestry, and musicality:

 

I. Sonera meticulosa

II. Soledad del Cañaveral 

III. Carlos Embale sin ti...

 

 

According to Brouwer in the video description, he composed the three movements of the Sonata in March 2021. A little later, João Luiz asked him for a fourth movement. In this sense, Brouwer took up the work to expand it to include a Cuban musical medium, Changüí, finishing it in May 2022, as Brouwer explains:

 

João asked me to complete it with a fourth tempo (...) which I did following his request to recreate the Changüí. Therefore, this sonata includes popular Cuban genres such as Son, Changüí, Rumba and elements of the dance music of my country”.

 

Brouwer expresses “his special affection” for João Luiz and the word he uses – “connection” – has the best meaning between these two artists from different generations united by art. And connection is also what we see between Brouwer's sonatas, from the first in 1990 [*], in whose contemporary sounds we hear, within a naturalness, minimalisms with Africanities and Cubanities – a good way to begin this listening is to return to the Twenty Simple Studies and continue beyond the technique. In fact, Cuba has been presented countless times through Brouwer's music; in the case of the Studies it was a double didacticism.

 

Let's return to the three premiered movements of the Sonata and the musical genres mentioned by the brilliant Cuban:

 

I- Sonera Meticulosa. It has a danceable character to the sound of "Son", a very widespread Cuban popular musical genre, which permeated the production of the national poet Guillén and very modern Cuban composers such as Caturla and Roldán, as well as the “Son” that is revisited in countless works by Brouwer.

In this first movement, the guitarist interacts with two alternating tempos: sometimes the melodic-rhythmic cells of the Clave (the rhythmic one) of the “Son”, sometimes the phrasings of virtuoso gesture, performed using extremely fast scales, in slurs, whose sonorities contrast to the tonal environment of the initial “Son”.

 

II- Soledad del Cañaveral. This second movement has a cantabile character, contrasting with the previous one, and skilfully dialogues with the rhythms of the first, with syncopated arpeggios introducing a melody, whose continuity promotes a dialogue in two layers. It is difficult not to be carried away by the soundscape of the sugarcane fields of that time, the cradle of so many aspects, of guajiros and treseros, of work and dances too.

 

III. Carlos Embale sin ti... . The musician mentioned in the title was a star of Cuban popular music, owner of a special voice for soloist/choir calls, active in the Rumba musical complex, from ancestral, polyrhythmic origin, and far from the commercial onslaught of the first half of the 20th century.

Here the danceable, frenetic character returns, much more allegro due to its rumbero medium than due to the sonero atmosphere of the first movement. Finally, there is a quote from Estudios Simples No. 10, which reiterates the dense rhythm of rumba and Brouwer's connection to the Afro-Cuban elements of this series.

 

The fourth movement IV- Quasi Changüí was not presented in this debut video, but we know that João Luiz has already been interpreting it, in the following order: I. Sonera meticulosa; II.Carlos Embale sin ti… III. Soledad del Cañaveral and IV-Quasi Changüí.

Changüí is another very traditional Cuban musical medium and we have examples of this in Estudios Sencillos, in several syncopation cells that cross from one measure to another. Brouwer's Simple Studies are a good basis to better locate the rhythmic cells of the aforementioned musical genres, and a large number of his works alludes to these characteristics.

 

 

João Luiz's performance – The dedicatee guitarist, in addition to the ease with which he performs technically, demonstrates the phrasing with great affection, interpreting and recognizing Brouwerian and Cuban musical signs; João Luiz enters and moves through the musical ideas, the landscape and the style are heard, thus becoming a reference.

A special detail is the position of João Luiz, adopting a posture in this video without using support for the guitar on the left leg, which in no way made it difficult for him to make timbral changes with his right hand and center his left well for jumps and necessary movements – all with mastery.

 

 

[*] Sonata 1 (dedicated to J. Bream)

Sonata 2 del Caminante

Sonata 3 Decameron Negro Post-sonata-del-decameron-negro

Sonata 4 del Pensador

Sonata 5 Ars Combinatoria (The Julian Bream Trust's Commission)

Sonata 6 De los enigmas/mistérios

 

 

More:

 

About  Clave, Son, Rumba, Changüí: Helio Orovio – Diccionario de la Música Cubana - biográfico y técnico. Editorial Letras Cubanas, 1981.

 

Music by Leo Brouwer: Ediciones Espiral Eterna

 

Sonata 7–Premiere video: https://youtu.be/Qq9JwGSa6l4?feature=shared

 

 

 





quinta-feira, 25 de abril de 2024

Paulo Martelli em Dedicatória

Brasilidade, performance de qualidade e 

versatilidade técnico-interpretativa 

estão reunidas no álbum Dedicatória.


Realizado em 2023, o projeto do álbum Dedicatória teve apoio do Proac – Programa de Ação Cultural do governo do estado de São Paulo, resultando em um belo trabalho do renomado violonista Paulo Martelli. O CD reúne gerações distintas de compositores, amplia e difunde o repertório do violão brasileiro, como Martelli já havia assim contribuído em 20 Estudos de Geraldo Vespar, álbum de 2019 (veja em Mais).

Presente em inúmeras vertentes da história da música, o repertório da família do violão possui obras de longínqua tradição, e sempre é partícipe de inovações. O violão é um instrumento musical que representa bem a mistura cultural brasileira, de toadas e serestas, de João Pernambuco, Garoto… Dessa mistura da cultura musical, estabeleceu-se o repertório do violão brasileiro, cuja tradição-modernidade está presente em cada uma das sete faixas do CD Dedicatória.

O álbum reitera exatamente tal característica e Martelli demonstra técnica e sensibilidade para fazer valer o texto musical que lhe foi dedicado. 

Vamos observar o que carrega cada obra e o brilho que o violonista aplicou neste registro. 

Cateretê de Sérgio Assad. Enquanto gênero musical, um cateretê se liga às tradições rurais de encontros festivos com muita dança, e as origens de Assad (1952) naturalmente encontraram os meios de nos transportar aos movimentos e pulsações próprios desse baile e às sonoridades da viola de arame, em seus glissandos e ponteios.

- Refúgio nº 1 (homenagem a M. Llobet) de Thiago Colombo. A peça, de autoria desse excelente violonista gaúcho, enuncia um fraseado das conhecidas canções catalãs, como Cançó del Lladre (Llobet) em reminiscências de seus harpejos e harmônicos, um clima impressionista em diálogo com uma canção de harmonias estendidas e baixos cantantes. 

 – Choro Noturno de Guilherme Girardi. Nessa peça, a brasilidade típica dos choros dolentes nos remete ao clima da serenata noturna, que aqui ressurge renovada pelas harmonias estendidas e cromatismos que o compositor, muito atuante na performance em seus grupos instrumentais, cita habilmente, desenvolve e passeia. 

Jongo de Sérgio Assad. Da ancestralidade do jongo como roda de encontros espirituais, temos aqui sua representação em formas musicais de células melódico-rítmicas escritas em rápidas síncopes ora modal/tonal que percutem em respeito aos tambores e para lembrarmos que estamos no terreno sagrado de uma tradição afro-brasileira. 

Choro Canção de Geraldo Vespar. A suavidade do discurso musical dessa peça nos mostra como o violão “fala” no choro canção, da linguagem que perpassa os baixos cantantes à melodia e harmonia que se abrem, modulam e regressam num jogo experiente de um mestre como Vespar (1937).

Cumprimentando (choro) de Geraldo Ribeiro. Esse breve choro do mestre Geraldo Ribeiro (1939) saúda as tradições com melodia e baixos seresteiros. 

Rapsódia dos Malacos de Marco Pereira (1950). A peça que encerra o Dedicatória é em si mesma uma homenagem aos grandes músicos-compositores que criaram temas e estilos marcantes, cujo aguçada sensibilidade de Pereira faz surgir uma saudação nova e variada aos mestres.

Paulo Martelli: Além de uma sólida formação técnica que lhe propicia limpeza sonora nas passagens de articulação mais difíceis, o violonista dedicatário, de fato, deteve-se em representar com entusiasmo e deferência cada obra do álbum; a distribuição clara de vozes e bonitos legatos destacam a ideia original de cada frase. 

Em Cateretê as dissonâncias nos ponteados da zona aguda impressionam pelo gesto exato do ataque numa região mais “tensa” das cordas; semelhante habilidade em Jongo, pela exatidão dos acentos rítmicos e Rapsódia dos Malacos que abrange diferentes níveis de articulação, dinâmicas e timbres em busca de seus temas harmônicos que contrastam e se reagrupam em uma paisagem que se carnavaliza ao final. 

Já o discurso musical de Refúgio n° 1, Choro Noturno, Choro Canção e Cumprimentando promovem, por suas características ligadas à natureza plangente das melodias trabalhadas pelos compositores, o som mais dolce de Martelli, e sempre de volume presente, de um vibrato comedido, elegante.

Parabéns a Paulo Martelli por esse bonito trabalho! 

Capa do álbum Dedicatória 

Mais:

Ouça o álbum Dedicatória em:

https://youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mWP4p2AzW39vndgRSdnk5HY-VjSTcvSxQ&feature=shared

Texto de Humberto Amorim para o CD Dedicatória:

https://www.paulomartelli.com.br/dedicatoria

Para conhecer também o CD 20 Estudos de Geraldo Vespar de Martelli em: 

https://youtu.be/nghKobtxnLk?feature=shared





quarta-feira, 20 de março de 2024

Novo lançamento de Edelton Gloeden

O violonista Edelton Gloeden acaba de lançar pelo Selo SESC um álbum que entra para a história da discografia brasileira e do instrumento. Com esse registro da obra integral de Camargo Guarnieri; Guerra-Peixe; Claudio Santoro; Osvaldo Lacerda e Edino Krieger, o professor da Universidade de São Paulo mostra publicamente os resultados de anos de dedicação a esse trabalho. 

Disponível em várias plataformas – leia em Mais.
Disponível em várias plataformas – leia em Mais.


Sempre é preciso saber em que devemos dedicar nosso precioso tempo, e esse lançamento é um daqueles momentos em que somos capturados por um motivo especial. Ouvir 48 faixas pelo magistral violão de um músico que prima pela seriedade com que interage com uma obra musical, com coerência e conhecimentos ímpares, é por si só um prazer, um aprendizado e um desvelo bem-vindo, e que queremos repetir.

Um violonista como Edelton Gloeden organiza e aponta novos horizontes, e por meio desse produto artístico ele reúne incríveis criadores brasileiros, em um monumental documento sonoro-musical da brasilidade, de vanguarda,  nacionalismo e mistura de diversidade cultural, que é o tesouro descoberto de um país. 

Não bastasse o pendor pela perfeição, ou justamente por isso, Gloeden fez-se acompanhar de grandes profissionais para acumular as melhores condições de trabalho – Ricardo Marui na gravação, edição e mixagem; Adélia Issa na direção do projeto e produção executiva; um encarte de leitura fundamental com autores que já são referências na abordagem da obra desses compositores, a saber: Lutero Rodrigues, Felipe Garibaldi, Marcelo Fernandes, Clayton Vetromilla, e o próprio Edelton; direção musical de Celso Delneri, e outros nomes mais que perfilam ali, demonstrando que a performance e memória musicais foram valorizadas em cada detalhe. E um "Viva!" ao dedicado Selo SESC, que acerta mais uma vez na parceria com a arte musical do Brasil.

Bravo, Edelton Gloeden! Parabéns a todos desse projeto! 

Mais:

Onde ouvir/clique:

Selo SESC SESC digital

YouTube

Plataformas diversas

Lançamentos:


Canal de YouTube 
Luciano Morais





En Castellano
El guitarrista Edelton Gloeden acaba de lanzar un álbum en el sello SESC que pasa a la historia de la discografía brasileña y del instrumento. Con este registro de toda la obra de Camargo Guarnieri; Guerra-Peixe; Claudio Santoro; Osvaldo Lacerda y Edino Krieger, el profesor de la Universidad de São Paulo muestra públicamente los resultados de años de dedicación a este trabajo.

Siempre necesitamos saber a qué debemos dedicar nuestro valioso tiempo, y este lanzamiento es uno de esos momentos en los que nos captura una razón especial.  Escuchar 48 pistas de la guitarra magistral de un músico que se destaca por la seriedad con la que interactúa con una obra musical, con coherencia y conocimiento único, es en sí mismo un placer, un aprendizaje y un cuidado bienvenido, y que sin duda repetiremos.

 Un guitarrista como Edelton Gloeden organiza y señala nuevos horizontes, y a través de este producto artístico reúne a increíbles creadores brasileños, en un monumental documento sonoro-musical de brasilidad, vanguardia, nacionalismo y mezcla de diversidad cultural, que es el tesoro descubierto de un país.

 Como si el afán por la perfección no fuera suficiente, o precisamente por eso, Gloeden estuvo acompañado de grandes profesionales para lograr las mejores condiciones de trabajo –Ricardo Marui en grabación, edición y mezcla;  Adélia Issa en dirección de proyecto y producción ejecutiva; notas de fundamental lectura con autores que ya son referentes en el acercamiento a la obra de estos compositores, a saber: Lutero Rodrigues, Felipe Garibaldi, Marcelo Fernandes, Clayton Vetromilla y el propio Edelton;  dirección musical de Celso Delneri, y otros nombres allí presentes, demostrando que la interpretación musical y la memoria fueron valoradas en cada detalle.  Y un "¡Viva!"  al dedicado Sello SESC, que una vez más triunfa en su colaboración con el arte musical de Brasil.

 ¡Bravo, Edelton Gloeden!  ¡Felicitaciones a todos por este proyecto!

English version
The guitarist Edelton Gloeden has just released an album on the SESC label that goes down in the Brazilian discography and the instrument history. With this record of all the work of Camargo Guarnieri; Guerra-Peixe; Claudio Santoro; Osvaldo Lacerda and Edino Krieger, he the professor at the University of São Paulo publicly shows the results of years of dedication to this work.


 We always need to know what we should dedicate our valuable time to, and this release is one of those moments when we are captured by a special reason. Listening to 48 tracks of the masterful guitar of a musician who stands out for the seriousness with which he interacts with a musical work, with coherence and unique knowledge, is in itself a pleasure, a learning and a welcome affection, and certainly we want repeat this experience.


  A guitarist like Edelton Gloeden organizes and points out new horizons, and through this artistic product he brings together incredible Brazilian creators, in a monumental sound-musical document of Brazilianness, avant-garde, nationalism and a mix of cultural diversity, which is the real treasure discovered of a country.


  As if the desire for perfection were not enough, or precisely because of that, Gloeden was accompanied by great professionals to achieve the best working conditions –Ricardo Marui in recording, editing and mixing; Adélia Issa in project direction and executive production; liner notes of fundamental reading of authors who are already references in the approach to the work of these composers,  namely: Lutero Rodrigues, Felipe Garibaldi, Marcelo Fernandes, Clayton Vetromilla and Edelton himself; musical direction by Celso Delneri, and other names present, demonstrating that musical interpretation and memory were valued in every detail. And a "Hurrah!" to the dedicated SESC Label, which once again triumphs in its collaboration with the musical art of Brazil.


  Bravo, Edelton Gloeden! Congratulations to each one on this project!







sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Ondas-sombras-reflexos: obra de Danilo Rossetti para violão e eletrônica

Em 2022, convidei Danilo Rossetti [1] a escrever uma composição para violão e eletrônica em que eu pudesse, como intérprete, fazer refletir sonoridades iberoamericanas e de cordas dedilhadas.  Com surpresa e satisfação meu colega na Música/UFMT prontamente atendeu a meu pedido com Ondas-sombras-reflexos e assim iniciamos um contato musical rico e promissor. Segue uma entrevista com Danilo Rossetti. 

(TP) Como você começou na composição? Quando teve o primeiro insight que queria ser compositor? Quais compositores desse seu primeiro interesse?

 (DR) Eu percebo que meu primeiro interesse, e até hoje, é pelo som, pelo timbre, pela harmonia. Sempre, desde muito cedo, adorava instrumentos musicais, poder sentar e passar muito tempo brincando com as sonoridades de um piano, por exemplo. Aos poucos, esse interesse pelo som ganhou novos ares por meio dos instrumentos eletrônicos e sintetizadores, com os quais eu descobri um outro mundo sonoro. Sobre preferências, tenho especial interesse pela sonoridade das músicas renascentista e barroca, sobre como se dá a condução da harmonia nesse período. Já na universidade me aproximei muito das obras e escritos do Xenakis, principalmente pelo estudo da questão do tempo. Também me aproximo das obras de compositores que passaram pelo estúdio de Colônia (Ligeti, Stockhausen) e do espectralismo (Grisey, Murail). Tenho bastante interesse atualmente na escuta do free jazz e outros trabalhos ligados à improvisação e articulação de grandes formas.

(TP) Sobre "articulação de grandes formas",  poderia dar um exemplo? Seriam obras de longa duração e complexidade?

(DR) Poderiam ser os grandes improvisos do Keith Jarrett ou longas composições do Egberto Gismonti ou Naná Vasconcelos. Estou pensando em discos dos anos 1970…

(TP) Existe alguma espécie de rito para você ou qual seria a sua rotina para compor? 

(DR) Acho que para compor a gente precisa reservar um período de tempo na rotina em que vamos mergulhar na composição sem sermos interrompidos pelo celular (que costumo deixar no modo avião), campainha ou qualquer outra distração. Não tem um horário específico, mas precisa haver essa concentração. Também não pode ser por pouco tempo, algumas horas é o ideal, pois só assim a peça flui, mas nem sempre a gente consegue esse intervalo devido à rotina. Eu uso tanto o papel quanto o computador no processo de composição. Os primeiros rascunhos são à mão antes mesmo da partitura propriamente dita. A segunda etapa é passar para o computador onde edito a escrita, estrutura, instrumentação e desenvolvimento da música. Depois imprimo a partitura e faço à mão os últimos ajustes de técnicas instrumentais e gestuais.    

 (TP) Danilo, no começo do ano de 2022 eu pedi a você uma obra de música eletrônica e violão, daí nasceu Ondas-sombras-reflexos. Como foi compor essa obra? Conhecimento anterior de violão, você possuía?  Sabemos que você já havia escrito uma obra, dedicada ao Sérgio Ribeiro – poderia falar um pouco dessa obra também.

(DR) Sim, já havia composto em 2020 uma peça para violão e eletrônica, Microrreflexões, dedicada ao Sérgio Ribeiro. As duas obras, Microrreflexões e Ondas-sombras-reflexos têm a eletrônica em suporte fixo, ou seja, ela é previamente composta e está fixada em um arquivo de áudio. A grande preocupação com a música mista é o tempo, seja da escrita do instrumento acústico, seja o tempo da eletrônica. Para isso a gente precisa ter o cuidado, no caso da música em suporte fixo, de escrever a partitura instrumental e a interação com os sons eletrônicos em espaços de tempo calculados, com técnicas, figurações e gestos exequíveis. Não sou violonista de formação mas conheço o instrumento, as possibilidades. Isso vem de muita escuta das peças contemporâneas e clássicas do instrumento. Acho que essa é uma das grandes necessidades dos(as) compositores (as), a escuta.     

 (TP) Como professor de composição, o que destacaria para seus estudantes mais se atentarem para a criação? 

(DR) Tem uma frase atribuída ao Schoenberg em que ele afirma que para compor ele tentava esquecer de todas teorias. Eu acho que é um dos caminhos: principalmente quando o(a) aluno(a) está no início, geralmente se sente amarrado(a) pelos conhecimentos adquiridos nas disciplinas de contraponto, harmonia, teoria, etc. A ideia da composição é justamente o contrário, a gente precisa soltar e deixar a mão fluir, e esse é um exercício, não vem naturalmente. É claro que em algum momento a gente vai ter que rever o que escrevemos para ver se é realmente aquilo que desejamos, mas o momento de “soltar a mão” é importante. Outro ponto é a técnica de composição. A partir da ideia, da fluência, podemos utilizar técnicas de composição que aprendemos, e isso ajuda a dar consistência à peça que estamos trabalhando. Finalmente, destacaria a criação em nossas mentes de imagens sonoras, bem resumidamente, imaginar o som que queremos em determinada peça. 

(TP) Vi em artigos e obras suas que há um interesse em trabalho colaborativo. Poderia falar um pouco sobre isso, o conceito e como tem sido para você? 

(DR) O trabalho colaborativo é essencial, principalmente para nós compositores, intérpretes, analistas, musicólogos, educadores que estamos na universidade. A música é coletiva e essas fronteiras estão cada vez mais difusas. Aprendemos muito com a colaboração e acho que o nosso papel é incentivar essa atitude aos alunos. O trabalho criativo só tem a ganhar com a colaboração, pois traz a criação para outro patamar em que as escolhas são feitas em conjunto, a partir da interação, e não somente a partir de um indivíduo. Nesse contexto os ensaios preparatórios são muito importantes para tomadas de decisão, pois cada nova peça tem uma história, uma vida própria, ou seja, uma busca de dar forma à sua singularidade. É preciso fazer essa vida brotar e se desenvolver em seus próprios caminhos.



Agradecendo a Rossetti pela obra e  entrevista, veja mais informações a seguir!

Mais

[1]Danilo Rossetti (São Paulo/SP 1978), Compositor cujo trabalho se concentra na pesquisa interdisciplinar por meio do uso de tecnologias, metodologias e práticas colaborativas em processos criativos, performances e análises musicais. Possui composições para diferentes formações instrumentais (solos ou conjuntos de câmara), acusmáticas, mistas e multimodais (instalações audiovisuais, música e dança, criações virtuais e música telemática). Foi um dos premiados do Prêmio Funarte de Música Clássica 2016, na categoria solos, música acusmática e mista. Suas composições já foram executadas em conferências e festivais tais como ICMC, CMMR, NYCEMF, CICTeM,NIME, BIMESP, SBCM, ANPPOM e CDMC 30 anos. Professor da Universidade Federal do Mato Grosso, de música eletroacústica, composição e disciplinas teóricas. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da UNICAMP. Investigador e líder do grupo de pesquisa do CNPq "Criação, análise e performance musical com suporte computacional". Realizou pesquisa de pós-doutorado junto ao Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora da UNICAMP, sob supervisão do Prof. Dr. Jônatas Manzolli e com apoio FAPESP. Estudou composição com José Manuel López López, Silvio Ferraz e Flo Menezes, e técnicas de interação entre instrumentos acústicos e computadores na música mista com Alain Bonardi e Anne Sèdes. É  Doutor em Composição Musical pela UNICAMP, com período sanduíche no Centre de recherche Informatique et Création Musicale da Université Paris 8, Mestre em Música e Bacharel em Composição (instrumental e eletroacústica) e Regência pela UNESP.  [Currículo Lattes/CNPq – Brasil]

- Página do compositor e  partitura

 https://danilorossetti.com/composicoes-compositions/ 

https://danilorossetti.files.wordpress.com/2023/04/ondas-sombras-reflexos-final.pdf

‐ Veja em Descompasso videopartituras a composição Ondas-sombras-reflexos de Danilo Rossetti e interpretação ao violão de Teresinha Prada.

- Vídeo de Danilo Rossetti sobre a obra (depoimento especial para o1º Workshop da Linha Temática de Música e Interpretação - CESEM Universidade Nova de Lisboa)

https://drive.google.com/file/d/1E4z8ItryN7XHTbTfMJOyyD7p9FdX1gQx/view?usp=drivesdk

- Resumo/Abstract da comunicação de Teresinha Prada e Danilo Rossetti sobre Ondas-sombras-reflexos e L'Oiseau-Lyre no evento Nova Contemporary Music Meeting da Universidade Nova de Lisboa. Artigo completo (Atas do evento NCMM2023) em breve.

http://fabricadesites.fcsh.unl.pt/ncmm/teresinha-prada-and-danilo-rossetti/

 

Español 
 
 En 2022, invité a Danilo Rossetti a escribir una composición para guitarra y electrónica en la que pudiera, como intérprete, reflejar sonidos y cuerdas pulsadas iberoamericanas.  Con sorpresa y satisfacción, mi colega de Música/UFMT respondió prontamente a mi pedido con Ondas-sombras-reflexos y así iniciamos un rico y prometedor contacto musical.  A continuación se muestra una entrevista con Danilo Rossetti.   

 (TP) ¿Cómo empezaste a componer?  ¿Cuándo se dio cuenta por primera vez de que quería ser compositor?  ¿Qué compositores te interesaron primero?   

(DR) Me doy cuenta de que mi primer interés, y hasta el día de hoy, es el sonido, el timbre, la armonía.  Siempre, desde muy pequeño, me encantaron los instrumentos musicales, pudiendo sentarme y pasar mucho tiempo tocando los sonidos de un piano, por ejemplo.  Poco a poco este interés por el sonido tomó nuevos aires a través de los instrumentos electrónicos y sintetizadores, con los que descubrí otro mundo sonoro.  En cuanto a preferencias, tengo especial interés en el sonido de la música renacentista y barroca, en cómo se conduce la armonía durante esta época.  En la universidad me acerqué mucho a las obras y escritos de Xenakis, principalmente a través del estudio de la cuestión del tiempo.  También me acerco a las obras de compositores que pasaron por el estudio de Colonia (Ligeti, Stockhausen) y el espectralismo (Grisey, Murail).  Actualmente estoy muy interesado en escuchar free jazz y otros trabajos relacionados con la improvisación y articulación de grandes formas.  

 (TP) En cuanto a la "articulación de formas grandes", ¿podría darnos un ejemplo?  ¿Serían obras duraderas y complejas?   

(DR) Podrían ser las grandes improvisaciones de Keith Jarrett o las largas composiciones de Egberto Gismonti o Naná Vasconcelos.  Estoy pensando en discos de los años 1970...

(TP) ¿Existe algún tipo de rito para ti o cuál sería tu rutina a la hora de componer?   

(DR) Creo que para componer necesitamos reservar un lapso de tiempo en nuestra rutina donde nos sumergiremos en la composición sin ser interrumpidos por nuestros teléfonos celulares (que suelo dejar en modo avión), un timbre o cualquier otro distracción.  No hay un tiempo concreto, pero es necesario que haya esa concentración.  Tampoco puede ser por poco tiempo, unas horas es lo ideal, porque es la única manera en que la pieza fluye, pero no siempre conseguimos ese descanso por la rutina.  Utilizo tanto papel como el ordenador en el proceso de composición.  Los primeros borradores están disponibles incluso antes de que se cree la partitura real.  El segundo paso es pasar a la computadora donde edito la escritura, estructura, instrumentación y desarrollo de la canción.  Luego imprimo la partitura y hago los ajustes finales a las técnicas instrumentales y gestuales a mano.  

 (TP) Danilo, a principios de 2022 te pedí un trabajo de música electrónica y guitarra, de ahí nació Ondas-sombras-reflexos.  ¿Cómo fue componer esta obra?  ¿Tenías algún conocimiento previo de guitarra?  Sabemos que usted ya había escrito una obra, dedicada a Sérgio Ribeiro, ¿podría hablarnos un poco sobre esa obra también? 

  (DR) Sí, en 2020 ya había compuesto una pieza para guitarra y electrónica, Microrreflexões, dedicada a Sérgio Ribeiro.  Las dos obras, Microreflexões y Ondas-sombras-reflexos, tienen la electrónica sobre un soporte fijo, es decir, están previamente compuestas y fijadas en un archivo de audio.  La mayor preocupación con la música mixta es el tiempo, ya sea el tiempo de escritura del instrumento acústico o el tiempo de la electrónica.  Para ello hay que tener cuidado, en el caso de la música sobre soporte fijo, de escribir la partitura instrumental y la interacción con los sonidos electrónicos en espacios de tiempo calculados, con técnicas, figuraciones y gestos factibles.  No soy un guitarrista de formación pero conozco el instrumento y sus posibilidades.  Esto proviene de escuchar mucho piezas clásicas y contemporáneas en el instrumento.  Creo que esta es una de las grandes necesidades de los compositores, escuchar.

(TP) Como profesor de composición, ¿qué destacarías para que tus alumnos presten más atención a la creación?  

 (DR) Hay una frase atribuida a Schoenberg en la que afirma que para componer intentaba olvidar todas las teorías.  Creo que es una de las formas: sobre todo cuando el alumno recién comienza, generalmente se siente atado por los conocimientos adquiridos en las materias de contrapunto, armonía, teoría, etc.  La idea de composición es exactamente la contraria, hay que soltarse y dejar fluir la mano, y esto es un ejercicio, no sale de forma natural.  Por supuesto, en algún momento tendremos que revisar lo que escribimos para ver si realmente es lo que queremos, pero el momento de “soltar” es importante.  Otro punto es la técnica de composición.  Desde la idea, desde la fluidez, podemos utilizar técnicas de composición que hemos aprendido, y esto ayuda a darle consistencia a la pieza que estamos trabajando.  Por último, destacaría la creación en nuestra mente de imágenes sonoras, en definitiva, imaginar el sonido que queremos en una determinada pieza. 

  (TP) Vi en tus artículos y trabajos que hay interés por el trabajo colaborativo.  ¿Podrías hablar un poco sobre eso, el concepto y cómo ha sido para ti?   

(DR) El trabajo colaborativo es esencial, especialmente para nosotros, compositores, intérpretes, analistas, musicólogos, educadores que estamos en las universidades.  La música es colectiva y estos límites son cada vez más difusos.  Aprendemos mucho de la colaboración y creo que nuestro papel es fomentar esta actitud en los estudiantes.  El trabajo creativo sólo puede beneficiarse de la colaboración, ya que lleva la creación a otro nivel en el que las decisiones se toman en conjunto, basándose en la interacción, y no solo por parte de un individuo.  En este contexto, los ensayos preparatorios son muy importantes para la toma de decisiones, ya que cada nueva pieza tiene una historia, una vida propia, es decir, una búsqueda por darle forma a su singularidad.  Es necesario hacer que esta vida brote y se desarrolle a su manera.   

 

English version

 In 2022, I invited Danilo Rossetti to write a composition for guitar and electronics in which he could, as a performer, reflect Ibero-American sounds and plucked strings.  With surprise and satisfaction, my colleague from Music/UFMT promptly responded to my request with Ondas-sombras-reflexos and thus we began a rich and promising musical contact.  Below is an interview with Danilo Rossetti.

 (TP) How did you start composing?  When did you first realize you wanted to be a composer?  Which composers interested you first?

 (DR) I realize that my first interest, and to this day, is sound, timbre, harmony.  I have always, from a very young age, loved musical instruments, being able to sit and spend a lot of time playing the sounds of a piano, for example.  Little by little this interest in sound took on new air through electronic instruments and synthesizers, with which I discovered another world of sound.  As for preferences, I have a special interest in the sound of Renaissance and Baroque music, in how harmony is conducted during this era.  At university I became very close to the works and writings of Xenakis, mainly through the study of the question of time.  I also approach the works of composers who studied Cologne (Ligeti, Stockhausen) and spectralism (Grisey, Murail).  Currently I am very interested in listening to free jazz and other works related to improvisation and articulation of large forms.

 (TP) Regarding "articulation of large forms", could you give us an example?  Would they be long-lasting and complex works?

 (DR) It could be the great improvisations of Keith Jarrett or the long compositions of Egberto Gismonti or Naná Vasconcelos.  I'm thinking of records from the 1970s...

 (TP) Is there some type of ritual for you or what would be your routine when composing?

 (DR) I think that in order to compose we need to reserve a period of time in our routine where we will immerse ourselves in the composition without being interrupted by our cell phones (which I usually leave on airplane mode), a doorbell or any other distraction.  There is no specific time, but there needs to be that concentration.  It can't be for a short time either, a few hours is ideal, because it is the only way in which the piece flows, but we don't always get that break due to routine.  I use both paper and the computer in the composition process.  Early drafts are available even before the actual score is created.  The second step is to move to the computer where I edit the writing, structure, instrumentation and development of the song.  I then print the score and make final adjustments to the instrumental and gestural techniques by hand.

 (TP) Danilo, at the beginning of 2022 I asked you for a work on electronic music and guitar, from there Ondas-sombras-reflexos was born.  What was it like to compose this work?  Did you have any background knowledge of guitar?  We know that you had already written a work, dedicated to Sérgio Ribeiro, could you tell us a little about that work as well?

 (DR) Yes, in 2020 he had already composed a piece for guitar and electronics, Microrreflexões, dedicated to Sérgio Ribeiro.  The two works, Microreflexões and Ondas-sombras-reflexos, have the electronics on a fixed support, that is, they are previously composed and fixed in an audio file.  The biggest concern with mixed music is time, whether it's the writing time of the acoustic instrument or the time of the electronics.  To do this, care must be taken, in the case of music on a fixed medium, to write the instrumental score and the interaction with electronic sounds in calculated time periods, with feasible techniques, figurations and gestures.  I am not a trained guitarist but I know the instrument and its possibilities.  This comes from listening to a lot of classical and contemporary pieces on the instrument.  I think this is one of the great needs of composers, to listen.

 (TP) As a composition teacher, what would you highlight so that your students pay more attention to creation?

 (DR) There is a phrase attributed to Schoenberg in which he states that in order to compose he tried to forget all theories.  I think it is one of the ways: especially when the student is just starting out, he generally feels bound by the knowledge acquired in the subjects of counterpoint, harmony, theory, etc.  The idea of ​​composition is exactly the opposite, you have to let go and let your hand flow, and this is an exercise, it does not come naturally.  Of course, at some point we will have to review what we write to see if it is really what we want, but the moment of “letting go” is important.  Another point is the composition technique.  From the idea, from the fluidity, we can use composition techniques that we have learned, and this helps give consistency to the piece we are working on.  Finally, I would highlight the creation of sound images in our minds, in short, imagining the sound we want in a certain piece.    

 (TP) I saw in your articles and works that there is interest in collaborative work.  Could you talk a little bit about that, the concept and what it's been like for you?   

(DR) Collaborative work is essential, especially for us, composers, performers, analysts, musicologists, educators who are in universities.  Music is collective and these limits are increasingly blurred.  We learn a lot from collaboration and I believe that our role is to foster this attitude in students.  Creative work can only benefit from collaboration, as it takes creation to another level where decisions are made together, based on interaction, and not just by one individual.  In this context, preparatory rehearsals are very important for decision-making, since each new piece has a story, a life of its own, that is, a search to give shape to its uniqueness.  It is necessary to make this life sprout and develop in its own way.