Iniciativas para
comemorar o Centenário de Abel
Carlevaro estão contribuindo para a referência de seu trabalho também como
compositor (veja abaixo em Mais).
Comparando sua produção, os Prelúdios Americanos são os mais conhecidos e apresentados, enquanto que obras como Cronomias I e os Estudios homenaje a H. Villa-Lobos têm menor inserção no repertório de concerto. Segue agora minha leitura de Cronomias (em parte abordada aqui: http://musicacontemporaneaparaviolao.blogspot.com.br/2016/07/especial-centenario-de-abel-carlevaro_28.html ) e Estudios 2 e 5.
Comparando sua produção, os Prelúdios Americanos são os mais conhecidos e apresentados, enquanto que obras como Cronomias I e os Estudios homenaje a H. Villa-Lobos têm menor inserção no repertório de concerto. Segue agora minha leitura de Cronomias (em parte abordada aqui: http://musicacontemporaneaparaviolao.blogspot.com.br/2016/07/especial-centenario-de-abel-carlevaro_28.html ) e Estudios 2 e 5.
Cronomias I (1971) traz em seu título uma ideia
de observar o Tempo (Cronos). Está dedicada ao grande violonista argentino
Miguel Angel Girollet (1947-1996). Trata-se de uma sonata em três movimentos, Poco libero, Intermezzo e Finale, partindo
de uma série dodecafônica em temas subsequentes que são relembrados nos três movimentos,
como flashes.
No primeiro
movimento a série é apresentada (com uma nota de altura indeterminada,
percutida na ponte – muito criativo); transposições são feitas e a série
reaparece por vezes, transmutada em novas ordenações, fixando-se em um motivo de
4 notas, de mesma relação intervalar, em reaparições. Isso é importante notar
porque no Intermezzo essa
apresentação em 4 notas será retomada; enlaces temáticos conformam uma
sonata, histórica e morfologicamente falando.
Há alterações
significativas no tempo, que devem ser bem destacadas, principalmente
levando-se em conta a atenção especial que Carlevaro deu a isso, desde o título
até sua anotação precisa de andamentos (♩=). Algumas posições fixas (acordes)
e padrões de digitação de mão esquerda são apresentados aqui e reexpostos à
frente, noutros movimentos.
Intermezzo, o segundo movimento, é o
mais experimental; Carlevaro escolhe o movimento lento da sonata como o mais
discursivo; sonoridades e muitas possibilidades tímbricas estão orientadas pela
Bula e vão demonstrando a riqueza do violão nessa área, otimizada pelo trabalho
de um compositor engajado com a música de seu tempo. A célula geradora (após a Introdução) já se vislumbra
no primeiro movimento, ela parte dos intervalos iniciais da série, das 4 notas
que se fixam como motivo, simetricamente.
O terceiro
movimento tem um caráter de dança, cuja configuração rítmica surge também
do primeiro movimento, de hemíolas agora mais presentes. O tratamento dado à série
continua variando, inclusive em um trabalho nos baixos, porém é mais envolto em
uma padrão de digitação da mão esquerda que caminha pelo braço do violão por
movimentos simétricos – ideias musicais a partir de padrões que se ligam à
técnica de Carlevaro.
Ideias do segundo movimento são reelaboradas, como a da apojatura, agora metricamente disposta em
uma quintina, e o glissando. Além disso, um ponteio, com a
primeira e sexta cordas, já surgido no segundo movimento, dispõe a série de 12
sons. Antes da retomada do Primo tempo, Carlevaro apresenta duas
microcadenzas de 12 sons (uma delas em timbre de pizzicato) em tempo libero
repousado em fermatas. Como final, a
ideia que introduz o Intermezzo é
reelaborada simetricamente.
Cronomias I é uma obra finamente arquitetada que
atinge com êxito as possibilidades da essência serial, com o desvio criativo que
a Poética impõe – não se trata tanto ou mais de compor em um Dodecafonismo
estrito, pois aqui o Timbre está bem atuante. A ideia de Tema e Variações e de diferencias,
bem como a polifonia implícita e de um motivo
– como o pioneirismo do B A C H motiv, de quadrados mágicos,
palíndromos... historicamente estão no germe do Dodecafonismo e podem ser
sentidos nessa sonata. Além disso, é inerente o uso da técnica carlevariana na
conformação de tais variantes que desenvolvem os temas iniciais. Outrossim, a
marca da América Latina está presente na rítmica bem como seu lugar na Música
Contemporânea.
O Estudio
2 (c.1970) é dirigido para o
movimento transversal, dentro das concepções técnicas da escola de Carlevaro.
Faz parte da série de Cinco Estudos
em homenagem a Villa-Lobos e está dedicado ao violonista brasileiro Marcos Alan (em parte
abordado aqui:
http://musicacontemporaneaparaviolao.blogspot.com.br/2016/09/parte-1-musica-contemporanea-para_18.html ).
Essa obra
possui uma rítmica de origem afro, nos baixos em ♪.♪.♪ muito difundida em países latino-americanos
– sabendo da força que o Candombe
tem no Uruguai, é premente que tal informação se relacione à obra (como em Tamborilles). Reúne-se a isso um
material atonal, dimensionado
pela fórmula dos dedos 1 - 2 - 3 - 4 para o movimento transversal.
A peça segue
uma forma A B A; a fórmula de compasso alterna 24 e 34
, sendo a primeira seção um ostinato
de semicolcheias e da rítmica 3 3 2. O contraste surge na segunda seção, Poco meno, com alteração da linha do ritmo, agora apresentada por outra
conformação que será repetida ao longo dessa parte; a nota pontuada e a síncope
estão sugerindo outra possibilidade de rítmica latino-americana.
O Estudio 5 (c.1970) integra a série em
tributo a Villa-Lobos e está dedicado à renomada violonista argentina Irma
Costanzo (1937). A intenção técnica é trabalhar os Acordes Repetidos – como
Villa-Lobos fez na década de 1920 nos Estudos
4, 6 e 12 e na parte A do Estudo 10.
Esse
estudo de Carlevaro possui 4 padrões de acordes fixos para realizar a melodia por paralelismo:
- acorde em
cordas soltas;
- acorde
em posição fixa simetricamente alternados em cordas (6) (5) (4)
(3) e (5) (4) (3) (2);
- acorde
com pestana, também trabalhados de forma alternada nas cordas;
- acorde com
outro desenho nas cordas (4) (3) (2) (1)
Assim
como em várias obras ao longo da produção villalobiana, como Estudo 4, 10..., Preludio 1 (1940), além do Concerto
(1951), esse Estudo 5 de Carlevaro
alterna cordas soltas com acordes fixos, fortalecendo a ideia de padrões e
digitações ligadas às possibilidades físicas do violão para criar a obra.
A peça segue
uma forma A B A Coda, cuja primeira
seção introduz a ideia de melodia de acordes com acentos indicados pelo
compositor e repouso em acordes (suave), desenvolvendo para fraseados
melódicos mais amplos ainda apoiados por acentos. Já aparece a alternância com
cordas soltas simultaneamente aos acordes fixos.
Na
segunda ideia musical, há uma rítmica clara do tipo 3 3 2 no baixo em destaque (il basso in relievo) que revela a melodia com um ostinato em
acompanhamento de acordes repetidos nas cordas (3)
(2) (1).
Esse momento retoma a
rítmica de matriz africana e latino-americana, pode estar lembrando o uruguaio Candombe, além de
flashes de
sonoridades de Villa-Lobos, o homenageado, no fraseado p
ao suave.
Na sequência
(a tempo), há alternância entre acordes fixos e cordas soltas e um
desenho melódico que favorece a fixação
da mão direita em P i m a,
movendo-se pelas seis cordas.
A parte A
é reexposta e a Coda possui mais fortemente uma referência ao Estudo 10 de Villa-Lobos, modulando o
tema, e os acordes finais em rasgueos
reforçam a ideia de latinidade e a evocação a Villa-Lobos, no final aproximado
aos Estudos 10 e 12.
Tal qual Heitor
Villa-Lobos, Abel Carlevaro reúne ancestralidade e sonoridades abertas ao Novo
nesses Estudos e em Cronomias I. Reconhecido como grande
didata e intérprete, que este ano de seu Centenário proporcione de agora em
diante sua merecida difusão como compositor.
Mais:
2016 - Emisora del Sur - programa En la Tarde del Sur
Especial Centenário de Abel Carlevaro, coordenado por Numa Moraes e Alfredo Escande
https://www.youtube.com/watch?v=4YicmkYp1UI
Dia 03 de dezembro, 15h - Evento no Departamento de Música da Universidade de São Paulo, coordenado pelo Prof. Dr. Edelton Gloeden.
De 3 a 8 de outubro - Evento da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campo Grande, coordenado pelo Prof. Dr. Marcelo Fernandes:
https://www.ufms.br/iii-festival-internacional-de-violao-de-campo-grande-sera-na-proxima-semana/
Leitura:
Tese do Prof. Dr. Celso Delneri
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-13112015-101451/pt-br.php
2016 - Emisora del Sur - programa En la Tarde del Sur
Especial Centenário de Abel Carlevaro, coordenado por Numa Moraes e Alfredo Escande
https://www.youtube.com/watch?v=4YicmkYp1UI
Dia 03 de dezembro, 15h - Evento no Departamento de Música da Universidade de São Paulo, coordenado pelo Prof. Dr. Edelton Gloeden.
De 3 a 8 de outubro - Evento da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campo Grande, coordenado pelo Prof. Dr. Marcelo Fernandes:
https://www.ufms.br/iii-festival-internacional-de-violao-de-campo-grande-sera-na-proxima-semana/
Leitura:
Tese do Prof. Dr. Celso Delneri
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27158/tde-13112015-101451/pt-br.php
Partituras editadas pela Barry Editorial - Argentina. À venda no Brasil. |
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