...comecei a compor a partir do instrumento, isto é, comecei
sendo violonista
Leo Brouwer*
Suite 1 - Antigua
Leo Brouwer (1939-) compõe a Suite
n.º 1 em 1955, denominada por ele “Antigua”,
por seguir formas da música antiga em seus quatro movimentos. É uma obra por
algum tempo sem registro em seu Catálogo e ainda pouco executada e gravada.
Mesmo apresentando formas tradicionais, mostra em essência um Brouwer já afeito
ao moderno – aqui ele estava com apenas 16 anos de idade.
Antecedentes – O próprio Brouwer
afirma em relatos de estudiosos de sua obra (como Paul Century e Diane Gordon)
que no início de sua carreira almejava ter em mãos um repertório de violão mais
ousado, com obras como as dos grandes nomes da história da música moderna –
Debussy, de Falla**, Bartók, Stravinsky – suas primeiras composições
se enlaçariam a esses referenciais.
O violonista
inglês Graham Devine gravou a Suite 1
(Naxos, volume 4 da obra de Brouwer) e reitera no encarte do CD esse intento do
jovem compositor: “Com esta composição, ele embarcou em sua viagem musical de
preencher lacunas que percebia na literatura do violão. Escrita na forma de uma
suíte barroca, a música se aproxima do neoclassicismo de Bartók e Stravinsky”.
No livro de Isabelle
Hernandez*** (2000, p. 13), o violonista Jesus Ortega (1935-) testemunha essa fase
de seu amigo Brouwer. Comentando sobre essa Suite,
Ortega rememora a seriedade de Brouwer em compor tal obra, e sua intenção de
fazê-la no estilo antigo (menciona uma suposta Allemande).
Nesse período Leo Brouwer fez duo com Ortega, inclusive faziam análises,
arranjos, baixos contínuos e se apresentavam junto a outros instrumentos.
O início da sua
atividade na escrita para violão se deu ao fazer tais arranjos. Interessante
que foi seu professor de violão, Isaac Nicola, quem lhe deu apoio para compor.
O hábito de arranjar e estudar processos composicionais, de autores que tinha ao
alcance, contribuiu para assimilar estruturas, materiais e formas musicais por
dentro da composição, e não unicamente como o intérprete que era.
Preludio – escrito a duas vozes, uma delas
em ostinato na região grave. A seção A
tem um ritornelo que finaliza de forma diferente e se encaminha para uma seção B
modulante – em Lá b Maior, com muitas dissonâncias de 2.as menores e
escalas que fazem a ponte para A’, com uma codeta
em cadência completa e, ironicamente, um final com acorde dissonante. O Preludio lembra uma overture de sonoridades beirando os autores já citados, mas também
algo de Prokofiev, principalmente pelo ostinato
quase marcial.
Fuga – A composição continua a duas vozes e em Dó Maior, sendo o sujeito da fuga gerado a partir da voz da região grave proveniente do Preludio. A Fuga se desenvolve e modula, caindo novamente para o Lá b Maior e o jogo de dissonâncias é reapresentado como no Prelúdio, com motivos em 2.as menores; há retomada da ideia inicial também com uma codeta, mas diferentemente do Preludio, a finalização aqui é tonal.
Fuga – A composição continua a duas vozes e em Dó Maior, sendo o sujeito da fuga gerado a partir da voz da região grave proveniente do Preludio. A Fuga se desenvolve e modula, caindo novamente para o Lá b Maior e o jogo de dissonâncias é reapresentado como no Prelúdio, com motivos em 2.as menores; há retomada da ideia inicial também com uma codeta, mas diferentemente do Preludio, a finalização aqui é tonal.
Sarabanda – De todos os
movimentos, esse é o que possui um discurso mais próximo ao modelo original.
Escrita a duas vozes, com muitos ornamentos e dinâmica bem trabalhada, tem um
funcionamento polifônico melhor acabado e momentos de contraponto imitativo. A configuração
formal, no entanto, contrasta com a sonoridade, que é a mais atonal dos quatro
movimentos.(video da Sarabanda: https://www.youtube.com/watch?v=RzWz9zS8u6s )
Giga: possui o andamento
formal da giga de tempo composto; a
célula motívica inicial é aproximada à Gigue
da Partita para alaúde BWV 997 de
J.S. Bach****. O processo é bem modulatório no início da Giga, o campo tonal de Dó Maior se relaciona agora mais com a
dominante Sol Maior. A seção inicial é reprisada, porém com uma terminação diferente,
caminhando para uma seção de acordes dissonantes em posição fixa e tempo ostinato. Continua modulando e entra na
seção B da obra, un poco menos (poco
rubato) mais aproximada à subdominante Fá Maior – o caráter da obra muda
nesse trecho, quase uma barcarola.
Essa seção contrastante se reorienta para o Tempo
I que reapresenta a seção A e modula mais uma vez para finalizar com uma codeta com cadência perfeita, em um
sonoro Dó Maior.
Retrato do jovem artista - Confirmando o que já opinaram, percebemos aproximações com Bartók e
Stravinsky em duas frentes na Suite 1:
- pela preocupação de Brouwer em experimentar a harmonia com extensões modernas,
com certos momentos de atonalidade; - uso de tempos ostinatos, não só por aqueles autores apontados, mas também
Prokofiev e Milhaud. A movimentação
modulatória quase na obra toda demonstra uma vontade de experimentar os
conhecimentos teóricos adicionados aos meios de intérprete/arranjador (esse é o
ano em que Brouwer se forma no Conservatório Peyrellade e faz seu début como solista), por meio de aberturas
e posterior retomada da ideia que gerou o movimento, ou seja, possui conceitos
bem determinados de tensão/ repouso e tema/desenvolvimento/retomada de tema. Ao
mesmo tempo, experimenta as dissonâncias – esse substrato que aos poucos se
torna sinal de sua jovem poética.
Ostinato na região grave. Frescor de uma primeira obra materializada. Prelúdio da Suite 1. |
Em contexto tonal, surgem dissonâncias. Uma imagem geradora que permanecerá na poética do jovem autor. Prelúdio da Suite 1. |
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* WISTUBA, Vladimir. La música de Leo Brouwer. Clave, nº 14, La Habana, 1989.
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Manuel de Falla não se alinha às mesmas tendências que os criadores citados,
mas é um dos nomes admirados por Brouwer.
*** HERNANDEZ, Isabelle. Leo Brouwer. La Habana: Editora Musical de Cuba, 2000.
**** Fizemos algumas associações simples com a obra bachiana em trechos da Suite 1, somente observado.
*** HERNANDEZ, Isabelle. Leo Brouwer. La Habana: Editora Musical de Cuba, 2000.
**** Fizemos algumas associações simples com a obra bachiana em trechos da Suite 1, somente observado.
Mais:
Suite 1 publicada pela Ediciones Espiral Eterna |
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