domingo, 11 de junho de 2017

O Violão na Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato Grosso



Em 2004, na cidade de Cuiabá – Mato Grosso, o compositor carioca Roberto Victorio resolveu criar uma mostra de música contemporânea inspirado por dois eventos históricos na produção de música de concerto brasileira: o Festival Música Nova (1962), realizado a partir de Santos e a Bienal de Música Brasileira Contemporânea (1973) do Rio de Janeiro. Victorio se liga aos dois eventos, participando com suas obras e nutrindo amizade e admiração mútua por Gilberto Mendes e Edino Krieger, os “pais” desses consagrados acontecimentos – nasce assim a Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato Grosso, apoiada por docentes da graduação em Música da Universidade Federal de Mato Grosso, o que proporciona uma forte atuação de alunos do curso e a vinda de inúmeros colegas de outros departamentos de música de universidades estaduais e federais, além de jovens pós-graduandos em plena atividade de formação artístico-acadêmica.

Com quatro edições realizadas, de 2004 a 2010, a Bienal apresenta a exata quantidade de 305 obras, para todos os tipos de formação solística e camerística, incluindo orquestras de câmara. Grandes nomes de atuação nacional ligados à música experimental de concerto vieram a Cuiabá – trata-se de uma lista tão longa que seria impossível reproduzir por completo aqui e agora. Essa história recente da produção brasileira está toda catalogada e publicada no livro lançado em setembro de 2016 - Catálogo Comentado Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato Grosso, publicado pela Editora da UFMT.

Como Victorio é violonista de formação, um dos primeiros Bacharéis do Brasil, ex-aluno de Jodacil Damaceno, foi naturalmente elencando nosso instrumento de seis cordas para essa incrível mostra da recente produção violonística do país. Como compositor, o premiado Victorio dedica enorme produção ao violão, desde a década de 1980; e eu tive a honra de estrear e de ser a dedicatária de algumas dessas obras, bem como Gilson Antunes e o pioneiro Paulinho Pedrassoli. Recentemente, meus alunos do Bacharelado em Música, habilitação Violão têm tocado as obras de Victorio, solo e de câmara, inclusive estreias.

Além disso, é patente que o Violão e a Música Contemporânea caminham lado a lado na história da música de concerto mundial, dando vazão a uma produção ininterrupta há gerações de violonistas. Assim, nada menos de 76 obras com violão foram apresentadas ao longo das Bienais de 2004, 2006, 2008 e 2010 em Cuiabá, sendo 28 peças solo; 22 para duos, trios etc. e 26 para violão e outros instrumentos - veja o Quadro completo de obras e autores. Passamos agora a comentar alguns destaques desse repertório.

A Bienal de Música de Mato Grosso tem uma  ligação com as vanguardas históricas, destacando-se obras contemporâneas de vertentes diversas, como Atonal, Serial, Eletroacústica e Minimalismo, e, ao mesmo tempo, abriu espaço para o diálogo interartes, por meio de obras de linha Cênica, que fizeram parte de sua programação. A pluralidade cultural esteve presente com repertórios ligados ao Choro Novo, Nacionalismo, Popular, Modal e Tonal expandido.

Algumas obras se destacaram nesse painel da música de concerto para violão solo que perpassou toda a Bienal, como a Sonata I de Almeida Prado, tendo o compositor homenageado presente ao evento, em 2010, assistindo ao concerto de Gilson Antunes. O violeiro e violonista Marcus Ferrer na primeira Bienal, em 2004, suscitou um repertório mais tradicional, incluindo obras de Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Radamés Gnattali e mais plural, com músicas autorais e de compositores como Roberto Velasco e Gibran Helayel. Paulo Pedrassoli teve uma marcante atuação solando Tetraktis de Roberto Victorio, em 2008.



Gilson Antunes durante a Bienal em concerto com a presença de Almeida Prado, para quem Gilson era "o Nelson Freire do violão".

Na área de câmara, presença importante foi o duo Doriana Mendes (Voz) e Marco Lima (Violão), em obras cênicas, em 2008, como Drama Urbano de Dawid Korenchendler; a Camerata do Conservatório Brasileiro de Música - CBM executando o Microconcerto de Roberto Victorio - complexa obra para 8 violões em 2004, e o Quarteto Contemporâneo de Violões (Teresinha Prada; Paulo Pedrassoli; Gilson Antunes; Roberto Victorio) estreando Tetragrammaton VIII, de Victorio, em 2008.

Há muitas possibilidades de objetos de pesquisa consultando o Catálogo Comentado da Bienal de Mato Grosso, como demonstra o quadro abaixo. Há um repertório novo gerado, tanto para novas formações camerísticas quanto para atuações solo de tendências diversas e compositores de distintas gerações, como Krieger, Zampronha e Marcus Siqueira. A Bienal de Mato Grosso se configura numa mostra multitemporal, com alusão a obras-chaves do repertório, como Villa-Lobos, e outras que abriram caminhos para novos processos, como Blirium de Gilberto Mendes. 

Observar esse Quadro é reproduzir muito da história da música de concerto brasileira do século XX e XXI e ver como o violão dialoga com isso, em um acervo robusto que mostra essa possibilidade de atuação.


Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato Grosso
Violão solo
Violões (duos, trios, quartetos, octeto e conjunto de violões)
Violão e outros instrumentos (incluindo Voz)
1.      A Tarde – Gibran Helayel
1.        Arpeggiatta – Marcelo Carneiro
1.    A Mulher e o Dragão - Gilberto Mendes
2.      Blirium C9 –  Gilberto Mendes
2.        Banda de Congos – Carlos Cruz
2.    Canções de Lucia Aizim –  Mauricio Dottori
3.      Da minha prata heresia – Luciano Campbell
3.        Bloco da Pitangueira – Rogerio Borda
3.    Chuva de verão – Marisa Rezende
4.      Delírios em serie –  Marcus Siqueira
4.        Canções da Velha Era – Pauxy Gentil-Nunes
4.    Diário do trapezista cego - Roberto Victorio
5.      Duas Peças –  Roberto Victorio
5.        Ciclo Caos Imaginário – Roberto Victorio
5.    Dois cânticos para o sol – Roberto Victorio
6.      Estudo 5 – Radamés Gnattali
6.        Cinco Miniaturas – Roberto Victorio
6.    Drama Urbano – Dawid Korenchendler
7.      Fantasie Presque Impromptu pour Ida Presti – Marcus Siqueira
7.        Colônia de Pêssego – Roberto Victorio
7.    Duas distâncias - Silvio Ferraz/Annita Malouf
8.      Flora e Fauna –  Villani-Côrtes
8.        Microcanto – Pauxy Gentil-Nunes
8.    Felicidade II – Gilberto Mendes (adaptação de Roberto Victorio)
9.      Gravuras de Debret – Carlos Cruz
9.        Microconcerto – Roberto Victorio  
9.    Fim de Inverno – Caio Senna
10.   Impressão n.º 1 – Emanuel Nunes
10.    Microtemas – Taygoara Nunes (adaptação de Roberto Victorio)
10. Galáxias II – Pauxy Gentil-Nunes
11.   Linhas Híbridas – Cristina Dignart
11.    Musica Mundana – Alexandre Eisenberg
11. Iniciação – Fernando Riederer
12.   Lúdica 1 – Guerra-Peixe
12.    Musica Para a Camerata de Violões – Hermeto Paschoal
12. Lufada no Cuiabá –  Beth Alamino
13.   Pendular – Mauricio de Bonis
13.    Na–Yucat – Roberto Victorio
13. Máxima 1 – Alceo Bocchino (adaptação de Roberto Victorio)
14.   Prelúdio – Edino Krieger
14.    Peça nº 5 – Gilberto Mendes
14. Nessum Maggior Dolore – Edson Zamrponha
15.   Prelúdio 3 – Gibran Helayel
15.    Peça Livre – Marcelo Moreira (adaptação de Roberto Victorio)
15. Nhanderu – Alceo Bocchino (adaptação de Roberto Victorio)
16.   Prelúdio 5 – Guerra-Peixe
16.    Quarteto Primar – Luciano Campbell
16. No Aquário em Juncos, o Cruzeiro de Betim – Ivan Simurra
17.   Prelúdio 2 – Villa-Lobos
17.    Quinquae Viae – Cleiciano Pereira
17. Obscuro sol no copo d’agua - Mauricio Dottori
18.   Prelúdio 8 – Ricardo Tacuchian
18.    Sonata II – Marcelo Moreira (adaptação de Roberto Victorio)
18. Paisagem Marciana - Caio Sena
19.   Prelúdio XIX – Roberto Victorio
19.    Sonata Transversais – Ticiano Rocha
19. Partida – Pedro Paulo
20.   Primeira Dança – Ticiano Rocha
20.    Suíte Típica Brasileira – Gaetano Galifi
20. Recorrências –  Marisa Rezende
21.   Quasi una Passacaglia – Gilberto Mendes
21.    Tetragrammaton VIII
21. Rio em Pauta –  Carlos Belém
22.   Rio São Francisco – Roberto Velasco
22.    Tema de um Relógio – Alceo Bocchino (adaptação de Roberto Victorio)
22. Três canções – Marisa Rezende (adaptação de Roberto Victorio)
23.   Ritmata –  Edino Krieger

23. Triatlo –  Joel Delatorre
24.   Sonata I –  Almeida Prado

24. Um Beijo – Fernando Riederer
25.   Suite Vila Vienna – Paulo Tiné

25. Vago – Laiana de Oliveira
26.   Tetragrammaton XIII – Roberto Victorio

26. Zona Âmbula –­ Brian Holmes
27.   Tetraktis –  Roberto Victorio


28.   Tríptico – Edson Zampronha


Total: 76 obras



Mais:
Catálogo da Bienal de Mato Grosso, da Editora da UFMT.

Editora da UFMT:
http://www.editora.ufmt.br/index.php?route=product/product&product_id=385
 
Sonata I - Almeida Prado, por Gilson Antunes – gravada ao vivo na 4ª Bienal de Mato Grosso, por Ricardo Marui.







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