Em 2004, na cidade de Cuiabá – Mato Grosso, o compositor carioca
Roberto Victorio resolveu criar uma mostra de música contemporânea inspirado
por dois eventos históricos na produção de música de concerto brasileira: o Festival Música Nova (1962), realizado
a partir de Santos e a Bienal de Música
Brasileira Contemporânea (1973) do Rio de Janeiro. Victorio se liga aos
dois eventos, participando com suas obras e nutrindo amizade e admiração mútua
por Gilberto Mendes e Edino Krieger, os “pais” desses consagrados acontecimentos
– nasce assim a Bienal de Música
Brasileira Contemporânea de Mato Grosso, apoiada por docentes da graduação
em Música da Universidade Federal de Mato Grosso, o que proporciona uma forte
atuação de alunos do curso e a vinda de inúmeros colegas de outros
departamentos de música de universidades estaduais e federais, além de jovens pós-graduandos
em plena atividade de formação artístico-acadêmica.
Com quatro
edições realizadas, de 2004 a 2010, a Bienal apresenta a exata quantidade de 305 obras, para todos os tipos de
formação solística e camerística, incluindo orquestras de câmara. Grandes nomes de atuação
nacional ligados à música experimental de concerto vieram a Cuiabá – trata-se
de uma lista tão longa que seria impossível reproduzir por completo aqui e
agora. Essa história recente da produção brasileira está toda catalogada e
publicada no livro lançado em setembro de 2016 - Catálogo Comentado Bienal de Música Brasileira Contemporânea
de Mato Grosso, publicado pela Editora da
UFMT.
Como Victorio é violonista de formação, um dos primeiros Bacharéis do
Brasil, ex-aluno de Jodacil Damaceno, foi naturalmente elencando nosso instrumento
de seis cordas para essa incrível mostra da recente produção violonística do
país. Como compositor, o premiado Victorio dedica enorme produção ao violão,
desde a década de 1980; e eu tive a honra de estrear e de ser a dedicatária de
algumas dessas obras, bem como Gilson Antunes e o pioneiro Paulinho Pedrassoli.
Recentemente, meus alunos do Bacharelado em Música, habilitação Violão têm
tocado as obras de Victorio, solo e de câmara, inclusive estreias.
Além disso, é patente que o Violão e a Música Contemporânea caminham
lado a lado na história da música de concerto mundial, dando vazão a uma
produção ininterrupta há gerações de violonistas. Assim, nada menos de 76 obras com violão foram apresentadas
ao longo das Bienais de 2004, 2006, 2008 e 2010 em Cuiabá, sendo 28 peças solo; 22 para duos, trios etc. e 26
para violão e outros instrumentos - veja o Quadro completo de
obras e autores. Passamos agora a comentar alguns destaques desse repertório.
A Bienal de
Música de Mato Grosso tem uma ligação
com as vanguardas históricas, destacando-se obras contemporâneas de vertentes
diversas, como Atonal, Serial, Eletroacústica e Minimalismo, e, ao mesmo tempo,
abriu espaço para o diálogo interartes, por meio de obras de linha Cênica, que
fizeram parte de sua programação. A pluralidade cultural esteve presente com
repertórios ligados ao Choro Novo, Nacionalismo, Popular, Modal e Tonal
expandido.
Algumas obras se
destacaram nesse painel da música de concerto para violão solo que perpassou
toda a Bienal, como a Sonata I de
Almeida Prado, tendo o compositor homenageado presente ao evento, em 2010,
assistindo ao concerto de Gilson Antunes. O violeiro e violonista Marcus Ferrer
na primeira Bienal, em 2004, suscitou um repertório mais tradicional, incluindo
obras de Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Radamés Gnattali e mais plural, com
músicas autorais e de compositores como Roberto Velasco e Gibran Helayel. Paulo
Pedrassoli teve uma marcante atuação solando Tetraktis de Roberto Victorio, em 2008.
Gilson Antunes durante a 4ª Bienal em concerto com a presença de Almeida Prado, para quem Gilson era "o Nelson Freire do violão". |
Na área de câmara, presença importante
foi o duo Doriana Mendes (Voz) e Marco Lima (Violão), em obras cênicas, em 2008,
como Drama Urbano de Dawid
Korenchendler; a Camerata do Conservatório Brasileiro de Música - CBM
executando o Microconcerto de Roberto
Victorio - complexa obra para 8 violões em 2004, e o Quarteto Contemporâneo de
Violões (Teresinha Prada; Paulo Pedrassoli; Gilson Antunes; Roberto Victorio)
estreando Tetragrammaton VIII, de
Victorio, em 2008.
Há muitas possibilidades de objetos de pesquisa consultando o Catálogo Comentado da Bienal de Mato Grosso, como demonstra o quadro abaixo. Há um repertório novo gerado, tanto para novas formações camerísticas quanto para atuações solo de tendências diversas e compositores de distintas gerações, como Krieger, Zampronha e Marcus Siqueira. A Bienal de Mato Grosso se configura numa mostra multitemporal, com alusão a obras-chaves do repertório, como Villa-Lobos, e outras que abriram caminhos para novos processos, como Blirium de Gilberto Mendes.
Observar esse Quadro é reproduzir muito da história da música de concerto brasileira do século XX e XXI e ver como o violão dialoga com isso, em um acervo robusto que mostra essa possibilidade de atuação.
Há muitas possibilidades de objetos de pesquisa consultando o Catálogo Comentado da Bienal de Mato Grosso, como demonstra o quadro abaixo. Há um repertório novo gerado, tanto para novas formações camerísticas quanto para atuações solo de tendências diversas e compositores de distintas gerações, como Krieger, Zampronha e Marcus Siqueira. A Bienal de Mato Grosso se configura numa mostra multitemporal, com alusão a obras-chaves do repertório, como Villa-Lobos, e outras que abriram caminhos para novos processos, como Blirium de Gilberto Mendes.
Observar esse Quadro é reproduzir muito da história da música de concerto brasileira do século XX e XXI e ver como o violão dialoga com isso, em um acervo robusto que mostra essa possibilidade de atuação.
Bienal de Música Brasileira Contemporânea de Mato
Grosso
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Violão solo
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Violões (duos, trios, quartetos, octeto e conjunto de violões)
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Violão e outros instrumentos (incluindo Voz)
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1. A Tarde – Gibran
Helayel
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1.
Arpeggiatta – Marcelo Carneiro
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1. A Mulher e o
Dragão - Gilberto Mendes
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2. Blirium C9
– Gilberto Mendes
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2.
Banda de Congos – Carlos Cruz
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2. Canções de Lucia
Aizim – Mauricio Dottori
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3. Da minha prata
heresia – Luciano Campbell
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3.
Bloco da Pitangueira – Rogerio Borda
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3. Chuva de verão –
Marisa Rezende
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4. Delírios em
serie – Marcus Siqueira
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4.
Canções da Velha Era – Pauxy Gentil-Nunes
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4. Diário do
trapezista cego - Roberto Victorio
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5. Duas Peças
– Roberto Victorio
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5.
Ciclo Caos Imaginário – Roberto Victorio
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5. Dois cânticos
para o sol – Roberto Victorio
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6. Estudo 5 –
Radamés Gnattali
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6.
Cinco Miniaturas – Roberto Victorio
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6. Drama Urbano –
Dawid Korenchendler
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7. Fantasie Presque
Impromptu pour Ida Presti – Marcus
Siqueira
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7.
Colônia de Pêssego – Roberto Victorio
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7. Duas distâncias
- Silvio Ferraz/Annita Malouf
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8. Flora e Fauna
– Villani-Côrtes
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8.
Microcanto – Pauxy Gentil-Nunes
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8. Felicidade II –
Gilberto Mendes (adaptação de Roberto Victorio)
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9. Gravuras de
Debret – Carlos Cruz
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9.
Microconcerto – Roberto Victorio
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9. Fim de Inverno –
Caio Senna
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10. Impressão n.º 1
– Emanuel Nunes
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10. Microtemas –
Taygoara Nunes (adaptação de Roberto Victorio)
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10. Galáxias II –
Pauxy Gentil-Nunes
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11. Linhas Híbridas
– Cristina Dignart
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11. Musica Mundana –
Alexandre Eisenberg
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11. Iniciação –
Fernando Riederer
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12. Lúdica 1 –
Guerra-Peixe
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12. Musica Para a
Camerata de Violões – Hermeto Paschoal
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12. Lufada no Cuiabá
– Beth Alamino
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13. Pendular –
Mauricio de Bonis
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13. Na–Yucat –
Roberto Victorio
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13. Máxima 1 – Alceo
Bocchino (adaptação de Roberto Victorio)
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14. Prelúdio – Edino
Krieger
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14. Peça nº 5 –
Gilberto Mendes
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14. Nessum Maggior
Dolore – Edson Zamrponha
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15. Prelúdio 3 –
Gibran Helayel
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15. Peça Livre –
Marcelo Moreira (adaptação de Roberto Victorio)
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15. Nhanderu – Alceo
Bocchino (adaptação de Roberto Victorio)
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16. Prelúdio 5 –
Guerra-Peixe
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16. Quarteto Primar
– Luciano Campbell
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16. No Aquário em
Juncos, o Cruzeiro de Betim – Ivan Simurra
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17. Prelúdio 2 –
Villa-Lobos
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17. Quinquae Viae –
Cleiciano Pereira
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17. Obscuro sol no
copo d’agua - Mauricio Dottori
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18. Prelúdio 8 –
Ricardo Tacuchian
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18. Sonata II –
Marcelo Moreira (adaptação de Roberto Victorio)
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18. Paisagem
Marciana - Caio Sena
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19. Prelúdio XIX – Roberto
Victorio
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19. Sonata Transversais
– Ticiano Rocha
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19. Partida – Pedro
Paulo
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20. Primeira Dança –
Ticiano Rocha
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20. Suíte Típica
Brasileira – Gaetano Galifi
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20. Recorrências
– Marisa Rezende
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21. Quasi una
Passacaglia – Gilberto Mendes
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21. Tetragrammaton
VIII
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21. Rio em Pauta
– Carlos Belém
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22. Rio São
Francisco – Roberto Velasco
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22. Tema de um
Relógio – Alceo Bocchino (adaptação de Roberto Victorio)
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22. Três canções –
Marisa Rezende (adaptação de Roberto Victorio)
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23. Ritmata – Edino Krieger
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23. Triatlo – Joel Delatorre
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24. Sonata I – Almeida Prado
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24. Um Beijo –
Fernando Riederer
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25. Suite Vila
Vienna – Paulo Tiné
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25. Vago – Laiana de
Oliveira
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26. Tetragrammaton
XIII – Roberto Victorio
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26. Zona Âmbula –
Brian Holmes
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27. Tetraktis – Roberto Victorio
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28. Tríptico – Edson
Zampronha
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Total: 76 obras
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Mais:
Catálogo da Bienal de Mato Grosso, da Editora da UFMT. |
Editora da UFMT:
http://www.editora.ufmt.br/index.php?route=product/product&product_id=385
Sonata I - Almeida Prado, por Gilson Antunes – gravada ao vivo na 4ª Bienal de Mato Grosso, por Ricardo Marui.
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