sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O Violão em 2021: a atuação de Amanda Carpenedo.

 

Amanda Carpenedo

Currículo Lattes: Amanda Carpenedo é Mestra em Música no ramo da Performance pela Universidade de Aveiro, Portugal, e possui os títulos de Bacharelado em Violão e Licenciatura em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tendo recebido Láurea Acadêmica em ambas as graduações. Atua nas áreas de ensino, investigação, criação, produção e performance. No Brasil, Argentina e Portugal, participou de diversos eventos como Festival de Inverno de Santa Maria, Festival de Violão da UFRGS, Festival Internacional SESC de Música, Encuentro Internacional de Guitarra Clássica La Falda, Hands-On Guitar (Hands-On Research Symposium), onde teve aulas com violonistas consagrados como Álvaro Pierri, Eduardo Fernandez, Paulo Martelli, Eduardo Isaac e Thomas Viloteau. Em sua formação acadêmica foi bolsista do Núcleo de Música Improvisada sob orientação do Prof. Adolfo Almeida Jr. e monitora da disciplina Práticas Instrumentais - Violão, orientada pela Prof.ª Flávia Domingues Alves, auxiliando na elaboração de materiais didáticos e ministrando aulas coletivas de violão. Na área de ensino, foi selecionada em 1º lugar como professora substituta de música no Colégio de Aplicação da UFRGS, onde atuou de 2015 e 2016 e professora substituta de violão no Instituto Federal do Rio Grande do Sul em 2021. Na pesquisa tem se dedicado a estudar e desenvolver técnicas, exercícios e arranjos para violão solo utilizando recursos percussivos, apresentando seus resultados em simpósios, encontros e revistas acadêmicas. No ramo da performance integrou o trio Damas do Violão com Flávia Domingues Alves e Fernanda Kruger, de 2014 a 2018, e também foi membro da Camerata Violões de Porto, em Porto Alegre, RS, desde a formação original em 2017 até 2018. Em 2019 realizou importantes concertos com a Orquestra Portuguesa de Guitarras e Bandolins, com destaque para a turnê europeia com a qual se apresentou em cinco países e um concerto na prestigiada Casa da Música no Porto. Como solista atuou em diversos eventos no Brasil, Argentina, Portugal, França e Espanha. Em 2017 ganhou o 1º lugar no I Concurso de Violão Fábio Lima - Homenagem a Henrique Pinto, em Curitiba, PR.

 

- Amanda, você empreendeu uma diversidade de atividades durante o ano de 2021, das quais eu observei algumas: conferencista no 21st Century Guitar, em interlocução com Stephen Goss; concertista no Festival de Teresina; administradora de seu canal no YouTube e, recentemente, professora substituta de Violão no Instituto Federal. Parabéns!!

(AC) Muito obrigada!

 

- Como separar e fundir tantas atuações a partir de sua formação? É preciso se reinventar? Comente um pouco sobre isso.

(AC) Então, acho que a gente não consegue parar muito quieta, não é mesmo? (risos)

Ao longo da minha carreira eu tenho me percebido cada dia mais plural em termos de atuação profissional. Seja tanto pela minha curiosidade e paixão pelas variadas áreas de atuação, como também por necessidade. Acho que uma coisa vai levando à outra e isso vai provocando um efeito curioso, uma certa inquietação que acaba dando resultados de uma forma bastante natural. Em minha pesquisa de mestrado, por exemplo, eu me vi ligando pesquisa, criação e performance tudo ao mesmo tempo. E os resultados desta experiência tem sido incríveis. Agora, quanto à pergunta sobre se reinventar, acredito que todos nós passamos por este momento ao longo desses dois anos de pandemia. Foi um período de frustração, reflexão e mudança, onde tivemos que buscar alternativas para nossos trabalhos. Acho que ter um projeto ou algo que nos motivasse tornou-se fundamental.

 

- Não podemos ignorar os dois anos da pandemia – o que essa sua atuação diversificada se liga com os aspectos telemáticos impostos pelo afastamento social? Ou seja, acredito que você tenha transformado parte de sua rotina e atitudes perante a performance e ensino. Comente um pouco sobre isso.

(AC) Eu percebo esse momento que vivemos como algo muito transformador. Nós artistas fomos duramente prejudicados e tivemos que aprender como lidar com essa nova fase. Para mim foi muito interessante a forma como as redes sociais nos conectaram e expandiram o alcance dos nossos trabalhos. Esta parte com certeza foi muito importante. Fico orgulhosa em perceber que uma das primeiras lives produzidas com a participação de violonistas (Concerto na Toca em março de 2020) foi idealizada por mim e teve uma alta receptividade do público. Pessoalmente, produzir um concerto online foi desafiador, mas ao mesmo tempo, foi um grito de resistência em tempos tão incertos. Outro ponto interessante foi a possibilidade de participar de inúmeros cursos, congressos e apresentações que ocorreram no mundo todo de forma online. Impossível negar a gigantesca democratização à essas experiências. Com relação às práticas de ensino foi um pouco mais tranquilo, eu já morava em Portugal e dava aulas online para alunos residentes no Brasil. Ao regressar para Porto Alegre eu mantive as aulas online e tive a oportunidade de dar aulas para alunos espalhados em vários estados brasileiros. Acredito que esta seja uma prática que veio para ficar.

 

- Você estudou em Portugal e atuou em várias localidades durante o período. Algumas pessoas pensam nos estudos no exterior, para além da formação, como uma oportunidade para currículo e construção de uma carreira. O que você pensa sobre a busca de estudos de violão no exterior?

(AC) Perfeita a sua colocação. Quando pensei em estudar no exterior foi como você disse, era uma inquietação que eu tinha para além da formação acadêmica. No meu caso eu tinha um desejo em conhecer o mundo e expandir minhas experiências pessoais e profissionais. Acho que a busca por estudar fora do país é algo muito particular de cada pessoa, cada um terá seus objetivos, mas para mim a experiência foi algo muito maior do que estar entre as paredes da academia. Falando um pouco do que vivi durante meu mestrado, para além das aulas e muuuitas horas de pesquisa e prática do instrumento, eu tive também a oportunidade de participar como solista de festivais internacionais de violão e também integrar uma orquestra de guitarras e bandolins, o que proporcionou, não apenas diversos concertos em Portugal, como também uma turnê por cinco países europeus. Essas experiências são raras e preciosas. Acho que independente dos objetivos de cada um, é recomendado que a pessoa, ao sair para estudar no exterior, abrace com muito carinho cada uma das oportunidades que aparecerem.

 

- Sobre seu trabalho de Mestrado, que gerou um importante estudo escrito (A elaboração de arranjos para violão solo utilizando recursos percussivos http://hdl.handle.net/10773/30576 ), vejo-o pela forte prática musical, que tem um processamento contemporâneo de relação do Timbre e do Ritmo à frente dos parâmetros do repertório tradicional e pela fusão de estilos, que expande o violão; você organiza muito bem isso em seu trabalho acadêmico. Como você vê essas possibilidades?

(AC) Muito obrigada pelas considerações. Este trabalho nasce de uma busca muito pessoal pela minha identidade artística. Por muitos anos me apresentei tocando repertórios já estabelecidos dentro da academia e, apesar de apreciar os variados períodos e estilos musicais, eu sentia que fazia um pouco mais do mesmo. Havia uma certa divergência sobre minhas práticas no palco e o que eu ouvia e criava em casa, em um ambiente mais descontraído. Em 2017, ainda cursando bacharelado na UFRGS, me aventurei a escrever um trabalho, apresentado em um Simpósio em Belo Horizonte, sobre um estilo ainda pouco falado dentro dos cursos de violão e sobre o qual me interessava muito: o fingerstyle. Sendo uma das pioneiras a escrever sobre este assunto, muitos convites interessantes começaram a surgir e eu vi neste tema uma grande possibilidade de pesquisa. Ao ingressar no mestrado decidi que não iria virar as costas para minhas origens dentro da escola conhecida como “erudita”, mas sim iria criar, através de arranjos para violão solo, uma prática que envolvesse uma espécie de hibridismo entre às características livres e percussivas do violão fingerstyle com as técnicas da escola erudita dentro de um repertório carregado de riqueza dos ritmos brasileiros. Foi neste caldeirão de influências que nasceu minha pesquisa intitulada “A elaboração de arranjos para violão solo utilizando recursos percussivos”. Com relação as possibilidades que citaste, eu vejo essa prática como uma novidade, algo que já está pulsando dentro e fora das academias. Há mais canais de integração entre outros músicos praticantes dessas técnicas integradas e há também muitos trabalhos surgindo, bem como arranjos e composições. Acho que muito em breve estaremos com estas técnicas estabelecidas, proporcionando inúmeras ferramentas para arranjadores, compositores e instrumentistas. Fico muito feliz e honrada em fazer parte desta construção.

 

- E seus planos para 2022?

(AC) Os planos para o ano que vem serão dar continuidade nas minhas atividades como professora de violão e agora integrando oficialmente também o corpo docente do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, fato que muito me honra. No campo da pesquisa eu pretendo seguir escrevendo e criando arranjos com as técnicas percussivas, divulgando meus trabalhos e aprofundando-os ainda mais. Espero que com as coisas voltando ao normal eu consiga visitar universidades e instituições de ensino de diferentes lugares do Brasil para realizarmos oficinas e workshops, acredito que isto proporcionará uma ampliação do meu trabalho e trocas importantes. Espero que em 2022 tenhamos muitos concertos presenciais e que possamos levar nossa arte para muitas pessoas. Com esse nosso contexto atual, nossa sociedade necessita com urgência de muita arte, cultura e educação. Tenhamos fé! Feliz ano novo!

- Feliz 2022!

 

 

Para conhecer/seguir:

vídeos Amanda Carpenedo/ Canal do YouTube

 La Toqueteada - Thiago Colombo

Parazula - Celso Machado


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