quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

 

O violão em 2021: a atuação de Bruno Madeira.

2021 apresentou muitos momentos de superação, que iremos relembrar aqui. Vamos começar com Bruno Madeira, violonista brasileiro que trouxe tantos prêmios, alegrias e encorajamento para os violonistas, diante de várias incertezas.

 

Foto: Daniela Rivera Madeira

 

 

Currículo Lattes: Premiado em festivais e concursos no Brasil, Itália, Estônia, Panamá, Finlândia, Albânia, Kosovo, Bulgária, Romênia e Lituânia, o músico catarinense Bruno Madeira vem se destacando nos últimos anos como solista, professor e pesquisador. Bacharel, Mestre e Doutor em Música pela Universidade Estadual de Campinas, Bruno se apresentou em mostras, seminários, festivais, salas e séries de concertos do Brasil e exterior. Destacam-se os recitais no Centro Cultural São Paulo e SESC Vila Mariana (São Paulo/SP), Quartas Clássicas - BNDES (Rio de Janeiro/RJ), Palcos Musicais (Londrina/PR), Casa da Música (Porto Alegre/RS), Casa Thomas Jefferson (Brasília/DF), SESC Paço da Liberdade e Museu Guido Viaro (Curitiba/PR), Festival de Música de Ponta Grossa (PR), Seminário de Violão de Itajaí (SC) e Festival de Música Erudita do Espírito Santo (Vitória/ES). Apresentou-se internacionalmente como solista na Argentina, Alemanha, Equador, República Tcheca e Eslováquia. Bruno também se apresentou como camerista em diversas formações, com Lucas Madeira (flauta), Ana Carolina Sacco (soprano), Leonardo Feichas (violino) e Samuel Pontes (piano). Com esses duos, apresentou-se nas séries SESI Música (São Paulo), SESI Música Erudita (São Paulo), SESC Sonoro (Paraná), SESC Caiçuma das Artes (Acre), além de concertos em Campinas, Vinhedo, Taubaté, Bananal, São José dos Campos (SP), Florianópolis, Itajaí (SC), Itajubá (MG), Buenos Aires e La Plata (Argentina). Foi vencedor de prêmios de interpretação musical em concursos nacionais e internacionais, entre eles os de Florença (Itália), Tampere (Finlândia), Ciudad de Panamá (Panamá), Tallinn (Estônia), Cluj-Napoca (Romênia), Plovdiv e Pleven (Bulgária), Tirana (Albânia) e Birštonas (Lituânia). Destacam-se ainda as premiações de Melhor Intérprete de Villa-Lobos no Concurso Nacional Villa-Lobos, e primeiros lugares nos concursos J. S. Bach (São Paulo), Tatuí, Maurício de Oliveira (Vitória), e Fred Schneiter (Rio de Janeiro). Tem artigos publicados em respeitados congressos e revistas nacionais e internacionais, dos quais se destacam as pesquisas sobre aspectos técnicos do violão e o gesto corporal na performance. Atualmente Bruno é professor da Universidade do Estado de Santa Catarina, responsável pelas classes de violão dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música e sendo regularmente convidado para realizar concertos, oficinas, palestras e masterclasses em festivais, universidades e conservatórios.


Bruno, você obteve uma excelente atuação em concursos internacionais durante todo o ano de 2021. Parabéns!!

(BM) Obrigado!

 

Quantos concursos foram?

(BM) Foram 22 participações em concursos da Europa, América Central e Ásia, com 10 prêmios.

 

Algumas pessoas pensam nos concursos como uma fase importante para currículo e construção de uma carreira. O que você pensa sobre os concursos?

(BM) Vejo que fazer concursos é um entre os muitos tijolos possíveis para se construir uma carreira. Isso se dá pelos prêmios em si, que às vezes são concertos ou aulas no festival do ano seguinte, pelos contatos que se fazem com a organização, júri e outros participantes, e pela visibilidade e credibilidade que os prêmios dão. Para além disso, eu acredito também na perspectiva dos concursos como ótimos impulsos para o desenvolvimento musical, é uma forma de se colocar um objetivo com prazo definido e de se preparar ao máximo para atingi-lo, expandindo limites. Porém, isso tudo tem um preço, a repetição do mesmo repertório por muito tempo é cansativa, às vezes o frescor de se fazer música se perde. Mas mesmo nesse caso, é interessante o desafio de olhar a música por outros ângulos para mantê-la viva. Os concursos têm apresentado candidatos em altíssimo nível e muitas vezes o resultado é definido por um mínimo detalhe ou até mesmo alguma inclinação pessoal do júri a uma determinada forma de ver a música. E isso não poderia deixar de ser, já que são pessoas, e não máquinas, que estão julgando. Ainda há o problema de se julgar quantitativamente uma atividade artística: fazer um primeiro filtro até é razoavelmente possível, mas depois de um certo nível, não é mais. De forma geral, em concursos desse tipo se percebe uma preferência por alguns intérpretes em detrimento de outros, mas mesmo assim há diferenças nos resultados quando os mesmos candidatos são avaliados por bancas diferentes. O que quero dizer é que o resultado de um concurso não representa quão bom ou ruim é um músico, mas qual performance teve mais impacto naquele exato momento, para aquele grupo exato de pessoas do júri, cada um com seus critérios objetivos e subjetivos.

 

Dentro do que você se propôs inicialmente, qual o balanço que faz dessa empreitada?

(BM) Ainda estou processando a quantidade de informações e repercussões, mas considero que o balanço foi muito positivo! Em termos de resultados, foi no segundo semestre de 2021 que eles vieram em peso, porque eu já contava com importantes experiências anteriores em relação a vários aspectos – seleção das músicas, técnica instrumental, rotina de estudos, musicalidade, acústica, horários e duração das sessões de gravação, equipamentos de áudio e vídeo, programas de edição, iluminação... Essa bagagem fez bastante diferença! Em termos de engajamento, também foi um ano muito positivo, muita gente conheceu (ou conheceu melhor) meu trabalho e estreitei muitos laços, em especial com a incrível campanha pelo prêmio de público do concurso de Gemona del Friuli, na Itália.

 

Não podemos ignorar os dois anos da pandemia – o que essa sua atuação se liga com os aspectos telemáticos impostos pelo afastamento social? Ou seja, acredito que você tenha transformado parte de sua rotina e atitudes perante a performance. Comente um pouco sobre isso.

(BM) O motivo pelo qual eu fiz tantos concursos foi justamente a impossibilidade de se fazer concertos presenciais. 2019 tinha sido para mim um ano intenso, com muitos concertos solo e de música de câmara em variadas formações. Em 2020 isso se reduziu a zero, e a partir da metade do ano vi a possibilidade de se fazer esses concursos online, principalmente na Europa, onde há muitos. Eu já havia participado presencialmente de festivais e concursos por lá, mas os custos e o tempo necessário seriam impeditivos para a quantidade de concursos que fiz nos últimos meses. Em 2021 os concursos foram um dos meus maiores focos de atividade, o que gerou importantes reflexões sobre rotina de estudos, técnica, interpretação e aspectos psicológicos da performance. Acho especialmente relevante mencionar esses últimos, porque a experiência de se gravar um vídeo é muito diferente da de um concurso presencial. A possibilidade de parar e começar de novo é uma faca de dois gumes, ela dá uma nova chance para corrigir algum erro ao mesmo tempo que dificulta a espontaneidade da performance. Conseguir se concentrar na música tendo isso em vista exigiu que eu pensasse sobre essa preparação psicológica de formas que eu nunca tinha pensado antes.

 

Em termos de peças de confronto e obras contemporâneas, como está a relação do repertório tradicional e o repertório mais recente para violão? O que os concursos que você fez demonstram quanto a isso?

(BM) Quase sempre os concursos exigem dos candidatos um repertório de diferentes períodos históricos, mas essa é uma preocupação importante para mim mesmo quando o repertório é livre. Percebo um bom equilíbrio entre músicas mais novas e mais antigas, e também entre repertório mais e menos conhecido, apesar de nesse caso a balança pender um pouco mais para as mais tradicionais. Achei particularmente desafiadores e interessantes alguns concursos que comissionaram obras novas justamente para a ocasião, como a de Leo Brouwer para o concurso 2 in 1 de Tampere/Petrer (Finlândia e Espanha), de Stephen Goss para o de Changsha (China), e a da Ximena Matamoros para o do Panamá. Isso de certa forma dá chances mais parecidas para os candidatos, além de incentivar a composição e interpretação da novíssima música contemporânea.

 

E projetos para 2022?

(BM) No fim desse ano gravei meu primeiro álbum, com música latino-americana para violão solo, um projeto financiado pelo ProAC/SP. No repertório tem três peças que toquei bastante nos concursos, a Sonatina Meridional (Manuel Ponce), Whirler of the Dance (Carlos Rafael Rivera) e La Ciudad de las Columnas (Leo Brouwer). Além dessas, fiz a primeira gravação de Desterro (Maria Ignez Cruz Mello), uma obra muito interessante e praticamente desconhecida do público. Vou lançar o álbum no começo de 2022 nos principais serviços de streaming, além do vídeo pela plataforma #CulturaEmCasa, do ProAC. Contei com uma equipe excelente, o Henrique Caldas (produção musical/edição), Felipe Rinke (engenharia de som e vídeo), Ricardo Marui (mixagem e masterização), Daniel Cornejo (produção executiva) e Julian Brzozowski (arte gráfica). O trabalho foi feito com muito capricho, estamos na fase final para o lançamento. Além disso, se a pandemia deixar, estão previstos alguns concertos no Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, alguns com o repertório do álbum, outros com música brasileira para violão solo e um que talvez seja a estreia brasileira de Brazilian Landscapes n. 12 para flauta e violão (Liduino Pitombeira), no Festival de Música Contemporânea Brasileira, em Campinas.

 

 

Vídeos:

 Concurso Pleven Bulgária

Concurso Panamá - obra Ximena Matamoros 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.