Entrevista
com Ericsson Castro
TP - Ericsson, qual sua história com o violão, formação, professores, atuação, quantos anos já... Eu
sei que você faz parte do Duo Ericsson Castro & Andrea Paz. E esse interesse pelo violão e música
contemporânea, como começou?
EC – Olá
Teresinha, primeiro obrigado pela oportunidade de falar sobre meu trabalho e
minha pesquisa. Eu comecei a estudar violão fazendo aulas particulares com
Edelton Gloeden, ele não aceitava alunos iniciantes, mas abriu uma exceção
porque meu avô era muito amigo do Everton (seu irmão). Começar com um professor
assim, já foi ótimo! Depois de uns quatro anos eu entrei na Universidade Livre
de Música onde estudei com o Everton Gloeden, por uns quatro anos também. Lá foi
legal, porque estava em uma fase de tocar e montar repertórios, e o Everton
ajudou muito. Depois eu entrei na Universidade, onde estudei por três anos com
o Luciano César, foi também um período legal de um engajamento mais
“científico” do estudo. Por fim eu estudei um ano na Escola Municipal com Paulo
Porto Alegre, onde revi muitas lacunas de técnica. Não posso reclamar de minha
formação, não imagino uma melhor.
É até interessante falar
sobre isso, porque eu vi muitos colegas irem para fora para estudar e tudo
mais, eu sentia que precisava ir para outro caminho, me jogar... desde então eu
já vivo só de música, e tem sido ótimo, o meu trabalho solo e em duo com a
Andrea. O interesse pelo violão é por causa do meu avô, que era amigo do
Everton, e um dia ele levou aquela fita cassete com a obra completa do Bach
para alaúde, foi paixão. Sobre o interesse pela música contemporânea, eu já
escutava muito antes de tocar violão, então foi só uma oportunidade para
expressar algo que eu já escutava muito, não tinha como fugir disso.
TP - Você vem fazendo um
trabalho acadêmico (Mestrado) na Unicamp, orientado pelo Prof. Dr. Gilson
Antunes, que aborda em certo grau a obra para violão de Sir Harrison
Birtwistle. Como está sendo essa pesquisa? Qual a temática geral?
EC - Estar sendo orientado pelo Gilson no
mestrado tem sido ótimo, cada conversa com ele, eu vou para casa com muita
informação, seja formalmente ou em um cafezinho, eu sempre aprendo muito com
ele.
Meu
tema inicial era falar sobre o projeto de Julian Bream Trust, porém abordar até
então, três compositores, seria muita coisa, então decidimos focar só na obra
do Birtwistle, que já é muito assunto, eu também não achei até agora nenhum
trabalho acadêmico aqui no Brasil específico sobre o Birtwistle, então me pareceu
bem propício. O nome do projeto é “Construction with Guitar Player de Harrison
Birtwistle: questões interpretativas, construção da performance e registro
sonoro.”
TP - Birtwistle é um
compositor complexo, cuja poética se liga à música contemporânea, e senti (na
escuta da obra Construction with Guitar...
e em outras que busquei ouvir) um certo lirismo. Você que tem estudado/abordado
sua obra, o que poderia dizer sobre essa minha percepção? Sei que a recepção da
escuta é coisa muito pessoal, mas me refiro ao fato desse jogo de aproximação
entre tradição/inovação nessa obra. Me parece que o elo disso é o grau de
“docilidade” da música. Comente por favor.
EC - Realmente, a primeira vez que escutei essa peça para
violão, a senti muito lírica, muito cantabile, escutando de novo depois e agora
estudando, debaixo de toda aquela “estrutura” eu vejo uma preocupação e cuidado
que o compositor e os intérpretes colaboradores tiveram com que a peça soasse
bem ao violão, é acho que soa, soa orgânica. Deixando de lado a análise e
compreensão da obra, escutar aquelas primeiras notas da composição é algo muito
bonito de se ouvir, é uma obra de lirismo, melancolia, memória e rítmica.
TP - Desenvolvendo a pergunta
anterior, a obra Construction partiu de
uma referência extramusical (um quadro famosíssimo) e me pareceu bem
“tradicional”, para quem está familiarizado com os processos composicionais da
música e da música de concerto dos séculos XX e XXI, porém isso faz de Construction uma obra de mestre, como
Birtwistle é de fato, pois apresenta relações bem funcionais como um ponto
culminante da obra; presenças de tema/ desenvolvimento/retomada do tema,
sabendo operar tanto com a tradição quanto com a essência do novo, prerrogativa
das poéticas contemporâneas. O que você vê a respeito do modo de trabalho de
Birtwistle?
EC - Birtwistle
é um compositor que trabalha muito bem essa questão do “moderno” e antigo, a
música dele tem essa coisa de medieval, do cantochão, de polifônica, tem um
certo arrojo de um Boulez, tem ritmo do Stravinsky, da música ritualística…
Sabe o
David Bowie que é chamado de camaleão, então, apesar de várias fases, passear
por muitas sonoridades, a gente ainda sabe que é o Bowie quando escuta, acho
que o Birtwistle é assim, a música de Birtwistle soa Birtwistle, apesar das
influências.
Eu
adoro a música eletrônica, acusmática, composição por algoritmo, mas a
composição do Birtwistle é “humana” ele é da tradição da grande composição da
música de concerto, assim como foi Elliot Carter, compositor de ofício, de
prancheta, lápis, apaga, refaz, apaga e refaz...
Isso
que você falou da forma é interessante, da presença de tema/
desenvolvimento/retomada do tema. Apesar disso a música dele tem uma coisa de
labirinto, onde você já sabe que vai sair, você vai se perder no caminho, pode
demorar, mas você sai do labirinto.
TP - Qual a previsão de
defesa de seu trabalho?
EC - Eu devo me qualificar nesse
primeiro semestre (2018) e quero defender no fim do ano ou começo do que vem.
TP - Grata pela colaboração. Boa sorte!
EC - Obrigado!
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