sábado, 24 de fevereiro de 2018

Ericsson Castro - sua pesquisa de mestrado sobre Birtwistle

Entrevista com Ericsson Castro

TP - Ericsson, qual sua história com o violão, formação, professores, atuação, quantos anos já... Eu sei que você faz parte do Duo Ericsson Castro & Andrea Paz. E esse interesse pelo violão e música contemporânea, como começou?

EC – Olá Teresinha, primeiro obrigado pela oportunidade de falar sobre meu trabalho e minha pesquisa. Eu comecei a estudar violão fazendo aulas particulares com Edelton Gloeden, ele não aceitava alunos iniciantes, mas abriu uma exceção porque meu avô era muito amigo do Everton (seu irmão). Começar com um professor assim, já foi ótimo! Depois de uns quatro anos eu entrei na Universidade Livre de Música onde estudei com o Everton Gloeden, por uns quatro anos também. Lá foi legal, porque estava em uma fase de tocar e montar repertórios, e o Everton ajudou muito. Depois eu entrei na Universidade, onde estudei por três anos com o Luciano César, foi também um período legal de um engajamento mais “científico” do estudo. Por fim eu estudei um ano na Escola Municipal com Paulo Porto Alegre, onde revi muitas lacunas de técnica. Não posso reclamar de minha formação, não imagino uma melhor.
É até interessante falar sobre isso, porque eu vi muitos colegas irem para fora para estudar e tudo mais, eu sentia que precisava ir para outro caminho, me jogar... desde então eu já vivo só de música, e tem sido ótimo, o meu trabalho solo e em duo com a Andrea. O interesse pelo violão é por causa do meu avô, que era amigo do Everton, e um dia ele levou aquela fita cassete com a obra completa do Bach para alaúde, foi paixão. Sobre o interesse pela música contemporânea, eu já escutava muito antes de tocar violão, então foi só uma oportunidade para expressar algo que eu já escutava muito, não tinha como fugir disso.

TP - Você vem fazendo um trabalho acadêmico (Mestrado) na Unicamp, orientado pelo Prof. Dr. Gilson Antunes, que aborda em certo grau a obra para violão de Sir Harrison Birtwistle. Como está sendo essa pesquisa? Qual a temática geral?

EC - Estar sendo orientado pelo Gilson no mestrado tem sido ótimo, cada conversa com ele, eu vou para casa com muita informação, seja formalmente ou em um cafezinho, eu sempre aprendo muito com ele.
Meu tema inicial era falar sobre o projeto de Julian Bream Trust, porém abordar até então, três compositores, seria muita coisa, então decidimos focar só na obra do Birtwistle, que já é muito assunto, eu também não achei até agora nenhum trabalho acadêmico aqui no Brasil específico sobre o Birtwistle, então me pareceu bem propício. O nome do projeto é “Construction with Guitar Player de Harrison Birtwistle: questões interpretativas, construção da performance e registro sonoro.”


TP - Birtwistle é um compositor complexo, cuja poética se liga à música contemporânea, e senti (na escuta da obra Construction with Guitar... e em outras que busquei ouvir) um certo lirismo. Você que tem estudado/abordado sua obra, o que poderia dizer sobre essa minha percepção? Sei que a recepção da escuta é coisa muito pessoal, mas me refiro ao fato desse jogo de aproximação entre tradição/inovação nessa obra. Me parece que o elo disso é o grau de “docilidade” da música. Comente por favor.

EC - Realmente, a primeira vez que escutei essa peça para violão, a senti muito lírica, muito cantabile, escutando de novo depois e agora estudando, debaixo de toda aquela “estrutura” eu vejo uma preocupação e cuidado que o compositor e os intérpretes colaboradores tiveram com que a peça soasse bem ao violão, é acho que soa, soa orgânica. Deixando de lado a análise e compreensão da obra, escutar aquelas primeiras notas da composição é algo muito bonito de se ouvir, é uma obra de lirismo, melancolia, memória e rítmica.

TP - Desenvolvendo a pergunta anterior, a obra Construction partiu de uma referência extramusical (um quadro famosíssimo) e me pareceu bem “tradicional”, para quem está familiarizado com os processos composicionais da música e da música de concerto dos séculos XX e XXI, porém isso faz de Construction uma obra de mestre, como Birtwistle é de fato, pois apresenta relações bem funcionais como um ponto culminante da obra; presenças de tema/ desenvolvimento/retomada do tema, sabendo operar tanto com a tradição quanto com a essência do novo, prerrogativa das poéticas contemporâneas. O que você vê a respeito do modo de trabalho de Birtwistle?

EC -  Birtwistle é um compositor que trabalha muito bem essa questão do “moderno” e antigo, a música dele tem essa coisa de medieval, do cantochão, de polifônica, tem um certo arrojo de um Boulez, tem ritmo do Stravinsky, da música ritualística…
Sabe o David Bowie que é chamado de camaleão, então, apesar de várias fases, passear por muitas sonoridades, a gente ainda sabe que é o Bowie quando escuta, acho que o Birtwistle é assim, a música de Birtwistle soa Birtwistle, apesar das influências.
Eu adoro a música eletrônica, acusmática, composição por algoritmo, mas a composição do Birtwistle é “humana” ele é da tradição da grande composição da música de concerto, assim como foi Elliot Carter, compositor de ofício, de prancheta, lápis, apaga, refaz, apaga e refaz...
Isso que você falou da forma é interessante, da presença de tema/ desenvolvimento/retomada do tema. Apesar disso a música dele tem uma coisa de labirinto, onde você já sabe que vai sair, você vai se perder no caminho, pode demorar, mas você sai do labirinto.

TP - Qual a previsão de defesa de seu trabalho?
EC - Eu devo me qualificar nesse primeiro semestre (2018) e quero defender no fim do ano ou começo do que vem.

TP - Grata pela colaboração. Boa sorte!
EC - Obrigado!



Mais:
Ericsson Castro toca Guitar and White Hand – primeira obra de Birtwistle para violão


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