sábado, 1 de outubro de 2016

Parte 3 – Música Contemporânea para Violão em Livros... Norton Dudeque



História do Violão, Curitiba: Editora UFPR, 1994.
autor: Norton Dudeque

Norton Dudeque é professor do Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná, atuando na área de teoria e análise musical, mas o meio violonístico o conhece bem por sua publicação História do Violão, único livro em Português sobre o assunto até hoje escrito.

A primeira surpresa é ver que a concisão do livro – em torno de 100 páginas – consegue determinar as linhas históricas do instrumento até a década de 80 do século XX. As notas ao final de cada capítulo e as referências bibliográficas são uma preciosa ajuda, sem falar do ótimo índice onomástico que facilita demais qualquer pesquisa na área. O livro é dividido em sete capítulos, que narram a trajetória do violão a partir da família das cordas dedilhadas.

O capítulo dedicado ao violão no século XX sintetiza os principais fatos, nomes e datas de eventos que marcaram a recente história do instrumento. Um marco em especial abordado é a obra encomendada a Manuel de Falla, em memória a Debussy – lá estão as informações elementares sobre esse importante momento de virada para o violão.

A Andrés Segovia, claro, não poderia deixar de figurar uma boa caracterização,  que trata de relacionar seu trabalho a de outros nomes como Ponce e Villa-Lobos, inclusive o famoso encontro entre o compositor carioca e o violonista espanhol. De Villa-Lobos, Dudeque apresenta os dados principais de sua obra e como é significativa por seu arrojo. 

Reitera o papel de Segovia como figura-chave para o estabelecimento do violão no meio de concerto; a atitude de Segovia em relação ao comissionamento de obras mormente neoclássicas, ampliando o repertório, embora com distanciamento de figuras modernas de então, como Bartok, Stravinsky e Schoenberg.

Sobre performance, John Williams é destacado, mas é Bream quem recebe a maior atenção de Dudeque, tanto por seus méritos como músico quanto pelo incentivo à “criação de um repertório de música contemporânea para violão” (DUDEQUE, 1994:91), elencando algumas das mais belas páginas da literatura para o instrumento: Nocturnal de Britten, além de Walton, Arnold, Berkeley, Henze entre outros. Dudeque faz um panorama da composição para violão na Europa, descrevendo autores e obras por países, fornecendo importantes subsídios para estudos acadêmicos e de performance.

O violão nas Américas também é apresentado nessa proporção entre compositores e intérpretes e os principais momentos da nossa história. Assim, desfilam feitos de Babbit, Carter, Carlevaro, Brouwer – este de carreira já definida e apontada por Dudeque como uma obra reconhecida, já standard do repertório de concerto, citando os principais pontos até então da produção do artista cubano.

Na área técnica, Carlevaro é apontado como o “iniciador de uma nova escola de violão” (DUDEQUE, 1994:100) e suas composições são comentadas. Vários nomes da América do Sul estão presentes nesse panorama americano que Dudeque oferece, primando por reforçar a presença marcante desses artistas no movimento violonístico mundial.

O esperado tópico sobre o violão no Brasil inicia por boas indicações sobre a presença primordial do instrumento nessas terras. Em seguida, o autor faz um trajeto entre os cultivadores dessa arte que se fazia presente nos espaços possíveis. Os didatas do instrumento recebem especial atenção, apresentados como uma linha genealógica desde Sávio; dos intérpretes, nomes muito consagrados.

Dos compositores brasileiros, novamente Villa-Lobos é citado por sua influência, porém Dudeque aponta obras e autores que se sustentam pela originalidade e qualidade de suas obras, como Edino Krieger, Almeida Prado e Marlos Nobre, que nos deram grandes obras, encomendadas pelo também grande Turíbio Santos, que teve a visão de propor esse trabalho a esses superlativos criadores, favorecendo o violão como representante também das possibilidades na música contemporânea.

Dudeque tem uma linguagem clara, mas refinada e o pouco espaço do livro foi a oportunidade para se fazer bem objetivo, bem prático em selecionar os principais gestos que tornaram esses criadores e intérpretes essenciais para figurarem na história do violão.

É um livro que aguça o interesse em saber mais, criar novos objetos de pesquisa, interpretar melhor as obras e, enfim, respeitar ainda mais o violão.

O livro está com a edição esgotada. Pode ser encontrado em bibliotecas de universidades e centros musicais.

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