História do Violão, Curitiba: Editora UFPR, 1994.
autor: Norton Dudeque
Norton Dudeque é professor do
Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná, atuando na área de
teoria e análise musical, mas o meio violonístico o conhece bem por sua publicação
História do Violão, único livro em
Português sobre o assunto até hoje escrito.
A primeira surpresa é ver que a
concisão do livro – em torno de 100 páginas – consegue determinar as linhas
históricas do instrumento até a década de 80 do século XX. As notas ao final de
cada capítulo e as referências bibliográficas são uma preciosa ajuda, sem falar
do ótimo índice onomástico que facilita demais qualquer pesquisa na área. O
livro é dividido em sete capítulos, que narram a trajetória do violão a partir da
família das cordas dedilhadas.
O capítulo dedicado ao violão no
século XX sintetiza os principais fatos, nomes e datas de eventos que marcaram
a recente história do instrumento. Um marco em especial abordado é a obra
encomendada a Manuel de Falla, em memória a Debussy – lá estão as informações elementares
sobre esse importante momento de virada para o violão.
A Andrés Segovia, claro, não
poderia deixar de figurar uma boa caracterização, que trata de relacionar seu trabalho a de
outros nomes como Ponce e Villa-Lobos, inclusive o famoso encontro entre o
compositor carioca e o violonista espanhol. De Villa-Lobos, Dudeque apresenta
os dados principais de sua obra e como é significativa por seu arrojo.
Reitera o papel de Segovia como
figura-chave para o estabelecimento do violão no meio de concerto; a atitude de
Segovia em relação ao comissionamento de obras mormente neoclássicas, ampliando
o repertório, embora com distanciamento de figuras modernas de então, como Bartok,
Stravinsky e Schoenberg.
Sobre performance, John Williams é
destacado, mas é Bream quem recebe a maior atenção de Dudeque, tanto por seus
méritos como músico quanto pelo incentivo à “criação de um repertório de música
contemporânea para violão” (DUDEQUE, 1994:91), elencando algumas das mais belas
páginas da literatura para o instrumento: Nocturnal
de Britten, além de Walton, Arnold, Berkeley, Henze entre outros. Dudeque faz
um panorama da composição para violão na Europa, descrevendo autores e obras
por países, fornecendo importantes subsídios para estudos acadêmicos e de
performance.
O violão
nas Américas também é apresentado nessa proporção entre compositores e
intérpretes e os principais momentos da nossa história. Assim, desfilam feitos
de Babbit, Carter, Carlevaro, Brouwer – este de carreira já definida e apontada
por Dudeque como uma obra reconhecida, já standard
do repertório de concerto, citando os principais pontos até então da produção
do artista cubano.
Na área
técnica, Carlevaro é apontado como o “iniciador de uma nova escola de violão”
(DUDEQUE, 1994:100) e suas composições são comentadas. Vários nomes da América
do Sul estão presentes nesse panorama americano que Dudeque oferece, primando
por reforçar a presença marcante desses artistas no movimento violonístico
mundial.
O esperado
tópico sobre o violão no Brasil inicia por boas indicações sobre a presença
primordial do instrumento nessas terras. Em seguida, o autor faz um trajeto
entre os cultivadores dessa arte que se fazia presente nos espaços possíveis.
Os didatas do instrumento recebem especial atenção, apresentados como uma linha
genealógica desde Sávio; dos intérpretes, nomes muito consagrados.
Dos
compositores brasileiros, novamente Villa-Lobos é citado por sua influência,
porém Dudeque aponta obras e autores que se sustentam pela originalidade e
qualidade de suas obras, como Edino Krieger, Almeida Prado e Marlos Nobre, que
nos deram grandes obras, encomendadas pelo também grande Turíbio Santos, que
teve a visão de propor esse trabalho a esses superlativos criadores, favorecendo
o violão como representante também das possibilidades na música contemporânea.
Dudeque
tem uma linguagem clara, mas refinada e o pouco espaço do livro foi a
oportunidade para se fazer bem objetivo, bem prático em selecionar os
principais gestos que tornaram esses criadores e intérpretes essenciais para figurarem
na história do violão.
É um
livro que aguça o interesse em saber mais, criar novos objetos de pesquisa,
interpretar melhor as obras e, enfim, respeitar ainda mais o violão.
O livro está
com a edição esgotada. Pode ser encontrado em bibliotecas de universidades e
centros musicais.
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