...Villa-Lobos era especialmente fascinado pela floresta amazônica
(suas lendas e a cultura indígena) e o violão não poderia ser esquecido nessa
homenagem ao Brasil que é sua obra.
Marco
Pereira
Heitor Villa-Lobos, sua obra para violão
Editora: Musimed, Brasília, 1984
autor: Marco Pereira
Marco Pereira é compositor e
violonista de renome e sofisticação em ambos campos. Seu livro é mais técnico,
no sentido da Análise, se configurando em um dos primeiros trabalhos com
objetivo de conhecer os processos composicionais de Villa-Lobos ao violão. O
texto é fruto de seu Mestrado defendido na Sorbonne em 1979.
Junto ao livro de Turibio Santos, esse trabalho de Pereira se caracteriza como um
dos pioneiros e mais citados pelos pesquisadores da área.
Pereira fornece diversas
informações preliminares para quem inicia uma pesquisa nesta
linha, abordando caraterísticas
brasileiras, como na Suite Popular
Brasileira, as origens de gêneros como a Valsa, a original e a brasileira,
aspectos seresteiros e o Choro, compilando vários autores importantes da
musicologia brasileira. Agrega informações sobre o Choros 1 e sua importância na série dos 14 Choros de Villa-Lobos. Também ao Chorinho da Suite, Pereira credita uma diferenciação em relação às demais peças,
por sua harmonização mais trabalhada, paralelismo de acordes e movimentos
cromáticos entre as notas, características estas reunidas antes mesmo dos 12 Estudos (p.95).
Pereira tem uma importante
conclusão a respeito da interpretação no Estudo
1, a de que esta deva ser guiada pelas alterações na Harmonia e nas Cadências
(p.30). Dos Estudos, o autor destaca
o de n.º 10 como um dos mais difíceis
da série em termos técnicos, pelo controle demandado na seção de ligados de 4
notas, e relembra o afastamento da ideia de tonalidade como característica de boa
parte dos Estudos.
As fórmulas de mão esquerda estão muito
presentes na série toda, como aponta Pereira, que conclui sobre a engenhosidade
do compositor: “Ele consegue, através do deslocamento da mão esquerda com apresentação
fixa (somado às três cordas soltas do violão – notas que não se movimentam)
harmonias de grande efeito” (p.55). Destaca especificamente a Coda desse Estudo: “Na coda, Villa-Lobos,
utilizando-se do motivo inicial, cria riquíssimas variações rítmicas entre
polegar indicador, médio, anular. As quintas e oitavas paralelas, deslocando-se
em saltos de terceira menor, tendo como pedal a segunda e a sexta corda,
engendram uma tensão magnífica atingindo seu ápice num rasgueado em
seis-quiálteras sobre o acorde do início transportado para a oitava superior”.
(p.57)
Ao Estudo 11, Pereira estabelece a parte central como uma “das mais
geniais proposições do compositor ao nível da criatividade na técnica
instrumental” pela ideia já apresentada da posição fixa de mão esquerda, cujo “resultado sonoro é inusitado” (p.57).
Abordando em seguida os Cinco Prelúdios, Pereira alude que é na
rica mistura de elementos musicais, na formação aberta a influências de
Villa-Lobos, que se configura uma música autenticamente brasileira. Na questão
do idiomatismo, a conformação física do violão como instrumento vem ao encontro
disso, tanto é que esse é um ponto forte trabalhado pelo compositor ao longo de
toda sua produção; Pereira aponta no Prelúdio 4, homenagem ao índio, o material
temático extraído da série de harmônicos naturais obtidos no violão, utilizados
por Villa-Lobos como tema da obra e depois retrabalhados nas melodias que se
encontram na parte central da peça, em frases com notas em harmônicos.
No entanto, as possibilidades
sonoras do violão também carregam suas limitações, como o baixo volume e
sustentação quando confrontado com orquestra, por isso Pereira expõe a ideia de
que Villa-Lobos não se opunha ao uso da tecnologia do amplificação no seu Concerto para violão e pequena orquestra
(p. 73).
Em
conclusão, Pereira reúne uma série de características que sintetizam enfim o
que faz de Villa-Lobos um nome de destaque no meio violonístico, “a marca
registrada do compositor”.
Algumas das principais considerações levantadas por Pereira (p. 109):
- A grande colaboração para o salto de qualidade na
escrita violonística são os 12 Estudos
e o Concerto.
- Sobre essa colaboração, Pereira opina que, em vez de inovações, seriam “achados” em correspondência à própria natureza do instrumento; compositores
que o antecederam, e mesmo seus contemporâneos, serviram-se do violão para
exprimir uma linguagem musical mais geral, quer dizer, comum a outros
instrumentos, enquanto que Villa-Lobos foi, seguramente, o primeiro a utilizar aquilo que
era exclusivo ao instrumento, partindo das digitações para construir sua
matéria musical, de posturas fixas para obter certos resultados sonoros.
- Utilização de elementos técnicos já muito
estabelecidos, porém de maneira bem pessoal, tais como efeitos de ligados, tremolos, arpejos e escalas, dimensionados
pela sua escritura.
- A utilização do quinto dedo da mão direita para a execução de acordes “plaqués” de cinco sons.
- A utilização do quinto dedo da mão direita para a execução de acordes “plaqués” de cinco sons.
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