terça-feira, 25 de outubro de 2016

Parte 6 - Música Contemporânea para Violão em Livros... Marco Pereira

 ...Villa-Lobos era especialmente fascinado pela floresta amazônica (suas lendas e a cultura indígena) e o violão não poderia ser esquecido nessa homenagem ao Brasil que é sua obra.

Marco Pereira


Heitor Villa-Lobos, sua obra para violão
Editora: Musimed, Brasília, 1984
autor: Marco Pereira

Marco Pereira é compositor e violonista de renome e sofisticação em ambos campos. Seu livro é mais técnico, no sentido da Análise, se configurando em um dos primeiros trabalhos com objetivo de conhecer os processos composicionais de Villa-Lobos ao violão. O texto é fruto de seu Mestrado defendido na Sorbonne em 1979. Junto ao livro de Turibio Santos, esse trabalho de Pereira se caracteriza como um dos pioneiros e mais citados pelos pesquisadores da área.

Pereira fornece diversas informações preliminares para quem inicia uma pesquisa nesta linha, abordando caraterísticas brasileiras, como na Suite Popular Brasileira, as origens de gêneros como a Valsa, a original e a brasileira, aspectos seresteiros e o Choro, compilando vários autores importantes da musicologia brasileira. Agrega informações sobre o Choros 1 e sua importância na série dos 14 Choros de Villa-Lobos. Também ao Chorinho da Suite, Pereira credita uma diferenciação em relação às demais peças, por sua harmonização mais trabalhada, paralelismo de acordes e movimentos cromáticos entre as notas, características estas reunidas antes mesmo dos 12 Estudos (p.95).

Pereira tem uma importante conclusão a respeito da interpretação no Estudo 1, a de que esta deva ser guiada pelas alterações na Harmonia e nas Cadências (p.30). Dos Estudos, o autor destaca o de n.º 10 como um dos mais difíceis da série em termos técnicos, pelo controle demandado na seção de ligados de 4 notas, e relembra o afastamento da ideia de tonalidade como característica de boa parte dos Estudos.

As fórmulas de mão esquerda estão muito presentes na série toda, como aponta Pereira, que conclui sobre a engenhosidade do compositor: “Ele consegue, através do deslocamento da mão esquerda com apresentação fixa (somado às três cordas soltas do violão – notas que não se movimentam) harmonias de grande efeito” (p.55). Destaca especificamente a Coda desse Estudo: “Na coda, Villa-Lobos, utilizando-se do motivo inicial, cria riquíssimas variações rítmicas entre polegar indicador, médio, anular. As quintas e oitavas paralelas, deslocando-se em saltos de terceira menor, tendo como pedal a segunda e a sexta corda, engendram uma tensão magnífica atingindo seu ápice num rasgueado em seis-quiálteras sobre o acorde do início transportado para a oitava superior”. (p.57)

Ao Estudo 11, Pereira estabelece a parte central como uma “das mais geniais proposições do compositor ao nível da criatividade na técnica instrumental” pela ideia já apresentada da posição fixa de mão esquerda,  cujo “resultado sonoro é inusitado” (p.57).

Abordando em seguida os Cinco Prelúdios, Pereira alude que é na rica mistura de elementos musicais, na formação aberta a influências de Villa-Lobos, que se configura uma música autenticamente brasileira. Na questão do idiomatismo, a conformação física do violão como instrumento vem ao encontro disso, tanto é que esse é um ponto forte trabalhado pelo compositor ao longo de toda sua produção; Pereira aponta no Prelúdio 4, homenagem ao índio, o material temático extraído da série de harmônicos naturais obtidos no violão, utilizados por Villa-Lobos como tema da obra e depois retrabalhados nas melodias que se encontram na parte central da peça, em frases com notas em harmônicos.

No entanto, as possibilidades sonoras do violão também carregam suas limitações, como o baixo volume e sustentação quando confrontado com orquestra, por isso Pereira expõe a ideia de que Villa-Lobos não se opunha ao uso da tecnologia do amplificação no seu Concerto para violão e pequena orquestra (p. 73).

Em conclusão, Pereira reúne uma série de características que sintetizam enfim o que faz de Villa-Lobos um nome de destaque no meio violonístico, “a marca registrada do compositor”. Algumas das principais considerações levantadas por Pereira (p. 109):

- A grande colaboração para o salto de qualidade na escrita violonística são os 12 Estudos e o Concerto.
- Sobre essa colaboração, Pereira opina que, em vez de inovações,  seriam “achados” em correspondência à própria natureza do instrumento; compositores que o antecederam, e mesmo seus contemporâneos, serviram-se do violão para exprimir uma linguagem musical mais geral, quer dizer, comum a outros instrumentos, enquanto que Villa-Lobos foi, seguramente, o primeiro a utilizar aquilo que era exclusivo ao instrumento, partindo das digitações para construir sua matéria musical, de posturas fixas para obter certos resultados sonoros.
- Utilização de elementos técnicos já muito estabelecidos, porém de maneira bem pessoal, tais como efeitos de ligados, tremolos, arpejos e escalas, dimensionados pela sua escritura. 
- A utilização do quinto dedo da mão direita para a execução de acordes  “plaqués” de cinco sons.


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