sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Parte 7 - Música Contemporânea para Violão em Livros... Turibio Santos


 ... o caso de Heitor Villa-Lobos seguiria sendo uma exceção. Sendo ele mesmo violonista, sua linguagem no instrumento tinha o privilégio de desbravar caminhos. 
Turibio Santos

 
Heitor Villa-Lobos e o Violão
Edição: Museu Villa-Lobos, Rio de Janeiro, 1975
Autor: Turibio Santos


O pequeno livro de Turibio Santos é um texto pioneiro com grandes informações que contribuíram em muitos objetos de pesquisa.

No primeiro capítulo, Turibio Santos mostra a relação de Villa-Lobos com a forte cultura popular brasileira, os primeiros escritos de um aspirante a compositor e como tudo isso conflui para uma obra vasta e precursora dedicada ao violão, em ambientes que vão de uma cidade “pacata e burguesa” como o Rio de Janeiro à agitada e cosmopolita Paris.

O autor vê nas quatro peças da Suíte Popular BrasileiraMazurka-Choro, Schottisch-Choro, Valsa-Choro e Gavotta-Choro –, um retrato musical da belle époque carioca, além de “um embrião dos Estudos e Prelúdios”. Atenta também para o fato de que o Chorinho, composto em 1923 em Paris, é o único em que “a região grave do instrumento tem papel preponderante, como sucederá a partir dos Doze Estudos, compostos em 1929” (SANTOS, 1975, p.9).

No capítulo 2, apresenta dois dos momentos mais marcantes da história do violão do século XX: o encontro Andrés Segovia & Heitor Villa-Lobos – lá está a famosa descrição dessa ocasião, primeiro dando a palavra a Villa-Lobos e depois a Segovia – e a criação dos 12 Estudos. O autor afirma: “Por um lado Villa-Lobos abriu um novo panorama para o instrumento, um novo padrão técnico e estético, sendo Segovia o primeiro beneficiado; por outro o grande virtuose espanhol ajudaria na divulgação do gênio brasileiro através de todo o mundo” (p. 14).

O Capítulo 3 aborda diretamente os 12 Estudos compostos entre 1924 e 1929. Turibio crê que muitas ideias desta coleção já estariam armazenadas no mundo musical de Villa-Lobos há tempos antes. Algumas das reflexões que Turibio faz sobre os Estudos:

Estudo 1 – considera como uma Bachianas Brasileiras miniaturizada. Interessante sua visão de que: “Embora a utilização das cordas soltas e dos cromatismos, sobre uma única posição, dê ao violão sua capacidade máxima de volume, o Cravo Bem Temperado está constantemente presente” (p.16);
Estudos 2, 3 e 9 – desenvolvimento de fórmulas à maneira de Carcassi, Carulli ou Aguado, e no acompanhamento “influência do chorão, embora dominada totalmente pelo criador erudito buscando preencher lacunas no repertório do instrumento” (p.15);
- Estudos 4 e 6 – arcabouços muito próximos do acompanhamento popular;
- Estudos 7, 10, 11 e 12 – nestes estariam o grande desafio à técnica e o convite às inovações da série;
- Estudo 10 – células rítmicas oriundas do samba ou da música africana (p.19);
- Estudo 11  – um tratamento imitativo da sonoridade do violoncelo, em um canto de feições brasileiras, em contraste com a ornamentação ligeiramente impressionista. Na parte central: “o efeito de campanela, utilizando em determinados momentos cinco ‘mis’ do violão e fazendo-os contrastar com o ré da quarta corda, marca data na história do instrumento” (p.20).

Turibio Santos percebe os três últimos Estudos como um acervo para o surgimento dos Prelúdios de 1940, principalmente em nuances do Estudo 11.

Atenta para a complexidade e o esforço demandado na abordagem dessas obras por parte dos estudantes, suscitando cuidados especiais, ou seja, há o momento certo para abordá-los.

Os capítulos 4 e 5 tratam dos Prelúdios. Turibio deixa evidente que na produção de Villa-Lobos houve um chamamento constante ao violão, seja por obras originais ou transcrições – em todos os momentos da carreira, o compositor sempre retornava ao violão.

No Prelúdio 4, “homenagem ao índio brasileiro”, o autor destaca a “utilização perfeita” das ressonâncias do violão. “Elas aparecem em toda a obra de Villa-Lobos mas aqui são vestidas, ademais, pela melodia reproduzida com os harmônicos naturais”. Constata aproximações entre a parte central do Prelúdio 4 a do Prelúdio 2 e Estudo 11, ou seja: “uma melodia nas cordas graves acompanhada por um arpejo, baseado numa só posição, que desfila nos trastes do instrumento” (p.27).

Ao final do livro há uma relação ampla de obras compostas para violão por Heitor Villa-Lobos, reunindo transcrições, música de câmara com violão e as partituras perdidas. Essa lista foi estabelecida pelo poeta e compositor Hermínio Bello de Carvalho, grande nome do meio artístico brasileiro – conjuntamente, ele, Jodacil Damaceno e Turibio Santos tiveram contatos com Villa-Lobos (entre 1956 e 1958, no Rio), guardando anotações e  lembranças, então posteriormente adaptadas para este livro.

Por gerações o nome de Turibio Santos vem sendo escrito na história dos grandes intérpretes do violão, e certamente assim continuará. Esse livro é mais um dado que demonstra tal grandeza; sua lucidez em registrar formalmente todos esses dados de Villa-Lobos, compartilhados já nos anos 1970, suscitou inúmeras pesquisas a partir de seu texto altamente perceptivo, inclusive vislumbrando a dimensão que teria a obra de Villa-Lobos, pouco mais de 10 anos após a morte do compositor (veja-se o capítulo As consequências de uma obra).

O livro está com a edição esgotada. Provavelmente pode ser encontrado em bibliotecas de universidades, centros musicais e no Museu Villa-Lobos (Rio de Janeiro).

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